TANTO ESPEREI PELA PRIMAVERA
Tanto esperei pela primavera, com tanto anseio,
dela ter o encanto de ver tudo a florescer;
de abraçar a sua nova vida, do renascer;
do florescer da contínua esperança
da igualdade, da justiça, da fraternidade;
e de ouvir o canto da cotovia a anunciar a felicidade...
mas como essa presença foi breve,
a minha primavera depressa se despediu e me fugiu,
e esse anseio se diluiu em mar de desilusão,
e tão pouco a amei, de realidade passou para ilusão.
Então, me chegou o prometido verão,
o acolhi para jumtos permanecermos,
para viver essa natureza de luz,
esse possuir do tempo da sua vida,
essa dança das espigas do trigo maduro,
o cantar da água que nos corpos refresca,
e a alegria nos corações das chegadas do que era saudade...
tudo isso ter, tudo isso queria no meu viver,
mas destino da vida este, de mim se cansou...
bem parou, me abraçou, mas também não ficou.
Que venha o outono, esse terno companheiro,
esse eterno poeta, esse eterno pintor.
Que me venha abraçar com o seu encanto colorido,
e o embalo do vento sonhador.
Que me venha com a sua dança das folhas aguareladas
e a melodia da brisa que nelas passa embalada,
essa poesia que nos faz cantar e sonhar;
esse tempo que nos passa na vida
que nos faz querer tanto amar.
Destino este que a vida tem...
também breve foi, passou e não mais me vem..
quando pensamos o que amamos não nos deixa,
é curta a vivência, nos foge e nos deixa sem a ter.
Deixou a saudade gravada no peito para que sempre a amasse.
Tinha o tempo marcado, para que o inverno chegasse.
E o prometido é devido.
O inverno bem me trouxe essa chuva,
esse frio que não aquece os corações,
esse aproximar fim da vida que a vida tem,
e com tanta vida ainda para amar, que já não vem,
porque amar é viver, alma sublime de ser,
sem amar o que será de mim, o que será de ti?
- um pobre ser, um triste viver!
Esse, não nos deixa facilmente:
Aconchega-se até que um dia com ele,
seguiremos no vento chuvoso e frio
para os infinitos horizontes desconhecidos.
Na nossa existência, muito tivemos
e pouco guardamos para a vida além.
Como são passageira as acontecidas vivências,
pois elas pertencem a cada tempo da sua existência.
E assim, o vento que passava, perdidas, quanto levava:
levou quantas pétalas da primavera ansiada,
da esperança aguardada, que foi iludida,
do cântico da alegria a anunciar a paz,
mas também deixou o sentido da sabedoria encontrada...
mas talvez noutra vida, terei essas ausências de hoje,
se assim for, as guardarei para um dia as partilhar.
Entretanto, outro vento virá, a natureza assim o faz,
esse traz-nos a saudade do que foi e que não volta a traz,
essa vida adormecida onde não houve sonhos e quanta perdi,
dessa quanta que não vivi e que não vi.
E aquela flor que tanto a cantei, saudosa comigo a levarei,
mas outras virão, que outras vozes as cantarão.
A vida que tivemos, a existência que nos foi dada,
essa sim, foi nossa enquanto a soubemos sonhar e amar,
se sempre assim fizéssemos valerá imenso a nossa existência,
porque quando então não mais podermos caminhar
neste peregrinar, tudo será ausência,
tudo será saudade...
Valdemar Muge