Sunday, July 15, 2018

OVAR, TERRA FLOR PRIMAVERA




ÁGUAS IMENSAS de horizontes longínquos, daqui vos vejo a marejar...
Sois berço onde o sol se põe reclinado ao som das tuas ondas, adormecendo, embalado se vai, se vai...
Vejo-te do cimo desta terra minha, que quanta já foi tua e me deste para terra de encanto meu, e a possa amar neste meu viver que aqui nasceu.
Águas deste mar infindo, afagai este canto que mando e gratidão deste meu sentir. Mas reparai, não tenho forma e jeito tanto de versos fazer, que mereça tão grande carinho que por ti sempre quero ter.
Esta é a terra florida que destas águas salgadas nasceu, a terra afagada na brisa das suas ondas, que vaidosa se espraia no espelho das suas águas, e se alimenta de quanto do que é teu.
É a terra de quando pelo mar banhada, a ofereceu; e de quando isso aconteceu, a lua numa noite de encanto seu, a beleza espalhou á ria que até aqui cresceu, o sol deu-lhe mais luz e cor á sua natureza que formosa se tornou; as aves encheu-lhe de melodias, cantando o que Deus criou; e a aragem moldou o mais belo sorriso, nas belas varinas desta terra, que dela sou!
Nas tuas brancas areias que se espraiam até ao mar, rebentaram as raízes que iriam fortificar as árvores semeadas por um povo que se expandiu, um povo cordial, amigo e fraternal; um povo de fé, de esperança da vida vencer, de alegria na alma de amar querer, que pelo areal desceu e a vida venceu.
Um povo que vê esta terra como sua, que nela quer trabalhar e as sementes cultivar; os frutos colher; as fábricas produzir; a sua vida nela viver! Mas quanto dele também sofre com a mágoa na alma, ao ver quantos dos seus filhos dela saírem por não terem aquilo a que tinham direito e querer... eu, aqui fiquei, livre, para poder cantar esta terra primavera, povo dela que comigo canta!
Esta é a terra primavera á beira-mar debruçada, flor silvestre nas areias brotada, papoula garrida coberta de iodo deste mar que é seu e meu!
Terra primavera que tens praia com ondas da cor do céu, com espuma de brilho de prata e búzios que se espraiam das dunas ao mar: que guardam os alegres sorrisos das crianças, brincando; as ternas caricias dos apaixonados, amando; a felicidade dos que te procuram e desejam o teu encanto e prazer, te querendo; a saudade de todos aqueles que em tempos contigo viveram. São mimos que te procuram, são belezas que tu acolhes...
Eu te chamo flor minha e sempre o será, pois minha voz sempre a cantará!
Não haverá terra mais minha, flor brotada na primavera nascida, igual que tanto encanta, só tu! (pois quando dela falo desta imensa afeição que em mim vive, este sentir na minha alma se levanta!)
Assim, este povo foi descendo dos seus bairros, descendo até ao mar nesta terra prometida, ao encontro do mar para suas águas rasgar. Foi conquistando a terra: deu-lhe o louro do milho e a brancura do trigo; rasgou caminhos e construiu lares; rasgou águas e descobriu novos horizontes daqui desconhecidos; cultivou desejos e arrecadou amizades.
Povo este da beira-mar, nascido com o iodo do seu mar e o encanto de saber amar, com a graciosidade da beleza e a felicidade no seu coração.
E neste já reclinado dia que daqui o vejo, quando o sol se prepara para nestas águas adormecer, deixando um abraço neste mar e terra que a sua luz lhes ilumina, embalado, eu, como ele, abraço esta natureza que no meu peito encerra; esta paz que nasce na cristalina e fresca água das suas fontes e se desliza nos rios que silenciosamente vai correndo por entre o verde harmonioso da natureza; abraço os sorrisos de luz que afloram das almas felizes e se estendem a todos em abraço fraternal.

Valdemar Muge