Tuesday, January 16, 2024

A PROCURA


A PROCURA

 

Procurei e não te encontrei,

como me fugiste e não te vi...

voaste sem mim, não te sei encontrar,

voltar atrás, impossível esse viver em mim.

 

Procurei o tempo que não vivi,

procurei os anos que não os vi,

não encontrei esse tempo ausente, perdido,

saudades de quanto então perdi.

 

Quem me levou o tempo de sorrisos, de alegria,

quem me levou o tempo que seria meu e desapareceu?

Fiquei apenas com metade do que devia ser todo meu,

para hoje este poema ser metade do que seria seu.

 

Mas mesmo com metade do sentir que tive,

desses  vossos sorrisos, desses olhares amigos,

do encanto da natureza, da alegria da vossa felicidade,

sempre agradecerei a emoção da Vida que exaltei na realidade.

 

Valdemar Muge

RECORDAS-TE



 RECORDAS-TE

 

Recordas-te desse nosso tempo de criança,

éramos amigos e felizes,

( era o princípio da nossa amizade, )

todos os olhares que nos viam, brilhavam e tinham ternura...

pensávamos então que esse brilho tinha vindo das estrelas;

todos nos sorriam,

eram faces de encanto e carinho

 com vozes melodiosas de simpatia...

acreditávamos sorrindo

que era mensagens de anjos seus amigos e nossos amigos seriam.

Oh, queridas imagens, doce ilusão dessa idade!

Mal sabíamos, que hoje me ouvirias a triste realidade:

são quantas e quantas são as crianças sem sonhos,

sem carinhos, sem amizades:

em vez de estrelas, têm na longa noite,

a casa em escombros deixados das guerras;

em vez de anjos, têm os destruidores da concórdia e da paz,

que quantos coabitam na terra, que dentro deles a maldade traz.

 

Recordas-te quando brincávamos com esses brinquedos queridos:

o pião, ao escondido, ao botão, tempo de partilha fraternal...

o carro e a mota de madeira, nas nossas mãos sempre andavam,

andavam nas ruas que fazíamos de pisos de inocência;

as casas de areia, se transformavam em castelos de fantasia

que a nossa imaginação os recheava de alegria,

e de sabores aromatizados, na mesa, por nós criados

e enfeitada com flores nossas amigas,

e de luz que apanhávamos que os passarinhos nos traziam.

Éramos construtores das nossas ideias,

e os rios nasciam e corria a água da nossa imaginação

das fontes da amizade e sob as pontes para o futuro;

cultivamos jardins, neles, floriam as nossas flores multicores,

e da terra, nascia os fruto de cada dia,

de cada abraço partilhado,

queríamos que esse tempo parasse

e que sempre assim fôssemos amados.

Mas hoje, amigo,

são recordações dum tempo que nos era de encanto,

hoje, quantos de nós, em vez de castelos,

dormem no abrigo da ponte ou em charcos de chuva contida;

em vez dos sabores na mesa,

mendigam á procura de um pouco de pão,

desses sabores amargos da fome e da tristeza que são;

em vez de alegria e felicidade, possuem o coração amargurado

pela miséria e destruição que permanece e que pelo mundo vão...

esses, amigo, são quantos que por vezes lhes chamamos irmão!

Por essa razão, o sangue inocente do poema da criança,

se dilui no mar das lamentações e contradições,

( antes porém, a aragem continuará a espalhar esse encanto

em outras crianças que acreditam na existência do amor... )

mas os sonhos correm, correm,

fogem nos sulcos da estrada do tempo,

nos atropelos e obstáculos encontrados que a vida nos surpreende.

 

Pudesse eu ser ainda essa criança,

ter essas nossas fantasias de então,

as espalharia por toda a parte:

de cada estrela despejava luz de alegria e felicidade;

de cada rio, regava as sementes para que sempre ouvece alimento;

de cada aurora que nascesse, mostrava a fraternal paz tão desejada;

de cada abraço que permanecesse, faria uma terra de fraternidade,

de cada beijo, uma multidão de amizades,

e de cada carinho, um mundo de amor.

E esse inocente sentir que então tinha de criança,

fosse o eterno elo da Concórdia.

 

A vida é efémera, mas há sonhos que são eternos.

 

Valdemar Muge

SERÁ ENCANTO


 SERÁ ENCANTO

Será encanto ou ilusão este meu sentir?

será talvez mistério no coração a florir,

ter tantas e quantas primaveras permanecidas

que florescem nos poemas com aromas sentidos.

Essas são as primaveras que me não fogem,

serão as rejuvenescidas, as que sempre viverão.

Serei assim primavera desse mistério no coração.

 

E esse sentir quando junto ao mar,

essa aragem refrescante ao calor solar

onde bebo essa luz e possuo esse mar,,,

esse olhar para o horizonte, na areia com espuma deixada,

onde abraço esse infinito salgado mas amado,

dessas gaivotas passando, voando,

alegres, em festa, anunciando o verão,

então, também serei nesses momentos: verão.

 

É no silêncio das folhas douradas

que o vento as despe e no vento vão

com saudades deixadas que daqui não mais serão,

que sinto que também serei outono,

esse encanto nos poemas que canto,

nesses versos que vão para vós ficando.

 

Assim serei, quantas vezes nas palavras o digo,

essas primaveras que em mim a natureza as floresce,

esse verão que o mar na praia me aconchega,

esse outono que o encanto dourado a meus pés, beija e chega.

 

Primavera, verão ou outono,

nesta lida do sentir,

neste viajar azul estrelado,

este navegar nas aragens de mar desejado,

só falta ir ao encontro do caminho invernal que me espera,

para então também ser esse manto branco

que ao longe me espera.

 

                                   Valdemar Muge

EM TODOS OS DIAS


 EM TODOS OS DIAS

 

Em todos os dias minhas mãos tentam apanhar a luz,

mas ela me foge...

é veloz e não sabe esperar para que eu tenha esse momento.

Meus braços se erguem e querem abraçar cada dia para o guardar,

para que eu sempre fosse desse dia, desse tempo,

mas em vão esse tentar.

Como o queria guardar para que o tempo parasse

e assim não corresse.

Esse é o destino de cada dia que nasce,

que cada dia me faz envelhecer...

cada dia ele me foge, é certo, mas cada dia guia meu viver...

cada dia ele me ensina a ser, a amar, e o cantar.

Desisti então de apanhar o tempo,

porque ele nasceu para ser livre e livre nos deixa ser

para não querermos aquilo que não  podemos ter.

 

Valdemar Muge

REFLEXÃO


REFLEXÃO


O que hoje podias fazer e deixaste para amanhã,

jamais será  igual ao que ontem o terias feito.

Lembra-te que os dias nunca serão iguais uns dos outros,

e os teus que na vida passas, diferentes dias serão,

e diferente sentir tem o coração.

Se idealizaste algo, não deixes de o fazer hoje,

porque amanhã,

será bem diferente daquilo que ontem idealizaste.

Lembra-te que cada dia que tiveste, te foi diferente:

o de ontem foi de espera, agora é saudade,

o de hoje, de alegria, ventura e quanta amargura,

e o de amanhã será então de ansiada esperança.

 

Valdemar Muge