RECORDAS-TE
Recordas-te desse nosso tempo de criança,
éramos amigos e felizes,
( era o princípio da nossa amizade, )
todos os olhares que nos viam, brilhavam e tinham ternura...
pensávamos então que esse brilho tinha vindo das estrelas;
todos nos sorriam,
eram faces de encanto e carinho
com vozes melodiosas de simpatia...
acreditávamos sorrindo
que era mensagens de anjos seus amigos e nossos amigos seriam.
Oh, queridas imagens, doce ilusão dessa idade!
Mal sabíamos, que hoje me ouvirias a triste realidade:
são quantas e quantas são as crianças sem sonhos,
sem carinhos, sem amizades:
em vez de estrelas, têm na longa noite,
a casa em escombros deixados das guerras;
em vez de anjos, têm os destruidores da concórdia e da paz,
que quantos coabitam na terra, que dentro deles a maldade traz.
Recordas-te quando brincávamos com esses brinquedos queridos:
o pião, ao escondido, ao botão, tempo de partilha fraternal...
o carro e a mota de madeira, nas nossas mãos sempre andavam,
andavam nas ruas que fazíamos de pisos de inocência;
as casas de areia, se transformavam em castelos de fantasia
que a nossa imaginação os recheava de alegria,
e de sabores aromatizados, na mesa, por nós criados
e enfeitada com flores nossas amigas,
e de luz que apanhávamos que os passarinhos nos traziam.
Éramos construtores das nossas ideias,
e os rios nasciam e corria a água da nossa imaginação
das fontes da amizade e sob as pontes para o futuro;
cultivamos jardins, neles, floriam as nossas flores multicores,
e da terra, nascia os fruto de cada dia,
de cada abraço partilhado,
queríamos que esse tempo parasse
e que sempre assim fôssemos amados.
Mas hoje, amigo,
são recordações dum tempo que nos era de encanto,
hoje, quantos de nós, em vez de castelos,
dormem no abrigo da ponte ou em charcos de chuva contida;
em vez dos sabores na mesa,
mendigam á procura de um pouco de pão,
desses sabores amargos da fome e da tristeza que são;
em vez de alegria e felicidade, possuem o coração amargurado
pela miséria e destruição que permanece e que pelo mundo vão...
esses, amigo, são quantos que por vezes lhes chamamos irmão!
Por essa razão, o sangue inocente do poema da criança,
se dilui no mar das lamentações e contradições,
( antes porém, a aragem continuará a espalhar esse encanto
em outras crianças que acreditam na existência do amor... )
mas os sonhos correm, correm,
fogem nos sulcos da estrada do tempo,
nos atropelos e obstáculos encontrados que a vida nos surpreende.
Pudesse eu ser ainda essa criança,
ter essas nossas fantasias de então,
as espalharia por toda a parte:
de cada estrela despejava luz de alegria e felicidade;
de cada rio, regava as sementes para que sempre ouvece alimento;
de cada aurora que nascesse, mostrava a fraternal paz tão desejada;
de cada abraço que permanecesse, faria uma terra de fraternidade,
de cada beijo, uma multidão de amizades,
e de cada carinho, um mundo de amor.
E esse inocente sentir que então tinha de criança,
fosse o eterno elo da Concórdia.
A vida é efémera, mas há sonhos que são eternos.
Valdemar Muge
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