Saturday, January 30, 2016

O TESOURO


Que tesouro maior guardo em mim,
sem que possa com ele escondido ficar:
meu pensar, preso não quer ficar
e livre nasceu para vos dar;
não tem preço que vos possa custar,
nem limite tem que possa findar.

Não! Não digam que as vozes já eco não têm;
que se não ouvem as denúncias das injustiças,
das maldades, das prevaricações,
porque as mordaças camufladas povoam no tempo!
Poderá ser que isso aconteça,
de quantas e tantas vozes não se ouvirem,
pelo querer de tanta gente... 
mas como possível será que isso ainda agora permaneça?...
mas, o pensamento, esse, sempre livre será,
a todos pertence  
e para todos se espalhará!
Esse tesouro, escondido não quererá estar,     
e sempre livre viverá!
Jamais alguém o roubará, de todos é, e sempre será,
jamais a liberdade nele se perderá!                                                                                               
                          Mas quanto no sentir cabe,
                          esse que jamais não terá fim,
                          tudo nele gera,
                          é força que grita,
                          é vida que renova,
                          é sentir que na alma trespassa,
                          é mar imenso, é amor sem fim.
                          Tudo nele sonha, tudo nele deseja,
                          é céu imenso de aves que o beija,
                          é universo de estrelas que se vê,
                          mas não mais alguém o apanha, mas que se crê.

                          Valdemar Muge

Saturday, January 23, 2016

NA RUA DA VIDA


Água que passa na rua da tua vida,
que água esta será que silenciosa levais?
Espelho este que de ti se reflete,
que me mostras,
que me dizes do sentir da tua gente?:
Será de chuva que a nuvem te deixou,
ou lágrimas de gente que a dor derramou?
Será de fonte de que nascente cantou,
ou de rio que água perdida se espalhou?

- Que não seja de lágrimas de triste criança,
sem amor, de fome, e sem esperança
de ter um mundo de amor e afeto...
Senhor, se de dor ela for, que não mais venha,
dai-nos-á para que criança só amor tenha!
Que não seja de mãe infeliz, de doloroso coração,
que a paz no seu lar não seja palavra em vão...
Mas que exista a felicidade e pão.
Água esta que corre,  de lágrimas não será...
porque se fosse de dor,
de sem afeto e amor,
ela salgada se sentia,
e de tantas lágrimas, a rua de tristeza se enchia.
Que seja de chuva,
porque assim, seu povo, tristeza não sentiu,
e a natureza, o abraço da chuva viu.
                         Que não sejam lágrimas de dor que no chão correu,
                         mas água que do céu caiu,
                         para à tua rua dar,
                         à tua vida partilhar,
                         para feliz correr até ao mar e o abraçar.

                        Em cada rua da nossa vida,
                        bendita a água que vida seu espelho reflete
                        os sentidos que nos passam e se sente:
                        a que faz renascer as flores que à vida despontam,
                        e a da esperança, da dor e da felicidade,
                        que o coração sente.                               

Valdemar Muge  

Sunday, January 17, 2016

OS PORTAIS


Eis os portais onde o tempo neles está gravado;
neles, está quantas histórias da vida passada...
marcos de vidas vividas para sempre recordadas,
símbolos vivos do que foram, do que são e do que serão,
firmes testemunhos de quem por eles passaram.

Eis os portais da fé que eles a acolheram,
fé de quantos, os abraçaram nos tempos passados;
das alegrias e felicidade que neles viveram;
da dor de quantos seres que por eles passaram,
e dos obreiros que briosos os construíram.
Foram firmes alicerces das vozes de mensagens da vida,
da justiça, da verdade!
Foram valo artes de quantas vidas por eles passadas.
Hoje, quantos agora são portais dos silêncios
das vidas que já não existem;
das vidas que para longe foram;
de tantos factos que jamais não serão esquecidos.
Eles marcaram o tempo, e sempre o marcarão,
são marcos da história que a história neles está gravada.
São os marcos das recordações de quantas vidas
que nos falam e nos lembram.
Abrimos as portas, passaremos por elas,
passaremos pelos portais de histórias de vidas
que quanto nos foram queridas e vividas.

As vidas foram, mas os portais continuam de pé,
valo artes da história dum povo!


                          Valdemar Muge

Sunday, January 10, 2016

CAI A NOITE


Lentamente cai a noite
nos dias que vão passando
e vividos nas auroras de cada dia
entre nós os dois.
Virá como querer anúncio de gélida despedida
ou desprender afetos conquistados entre nossos seres?  
- Não! Isso não!
Mas sim, o querer ser anunciação de paz e força de união.

Cai a serena noite nos dias da saudade,
e nos cansados dias da vida,
que junto passamos e os corações demos.
Ela cai... cai com suave névoa que nos cobre os alvos cãs,
noites estas que nos envolvem à luz das estrelas
e o cântico dos silêncios, os corações vão sentindo.
Cai a amena noite nas palavras dos dias luminosos,
nos dias que foram de sonho e de amor,
nos dias que nos foram quão formosos.
Ela cai... para nela vivermos repousados
na tranquilidade que os corações sentem e amam. 
A noite que vai chegando,
que o tempo impõe e não pára,
a noite que nos vai aspergindo:
as estrelas do afeto e do amor, a acompanham...
elas nos abraçam, e  protegem nossos seres eternamente.
A serena noite do outono da vida vai chegando,
nos vai abraçando, e vai ficando
no aconchego do calor dos nossos corações.

Os dias passados, nos serão de saudade...
os futuros, esses,
serão de eterno carinho e amor construído.
Agora, vivamos os nossos futuros dias de poesia,
faremos parte dos futuros dias de encanto renascido,
emoldurados nas luminosas noites de amor partilhado.


Valdemar Muge

Saturday, January 02, 2016

O NOVO TEMPO



Como vens cansado, irmão:
tua voz já não ecoa e tuas mãos, trémulas estão:
percorreste o tempo das incompreensões,
das mentiras e dos ódios;
percorreste o tempo das guerras, das vinganças, 
dos sobressaltos a cada momento.
Pesada e grande foi a tua caminhada!
A tristeza paira no teu coração
e a angústia sobressai no teu rosto,
depois de teres visto todos esses flagelos
neste mundo tão contornado.
O encanto que possuías, se esvaiu...
Agora, se transformou em pranto,
em desilusão, em dor que no coração feriu.
Como teu espírito está triste,
depois de passares  por todas as adversidades
que permanecem no mundo!
Ouviste os gritos do desespero;
sentiste a dilacerada dor;
mas também viste nos olhos do povo,
o brilho da esperança.
Mas não desanimes!
Dias melhores, surgirão.
O tempo da esperança surgirá e vencerá.

Agora repousa, e recupera forças para abraçar
os dias que hão-te surgir da paz e da fraternidade.

 Para traz, ficou o tempo maléfico
e no horizonte, avistarás o novo tempo que surgirá,
aquele de que anseias,
o da esperança na harmonia entre os povos.
Iremos juntos, cantar nosso canto
que deste pranto,
transformar em louvor de felicidade e de paz.

 Valdemar Muge