Saturday, August 05, 2006

O MEDO


Medo, não!
Não te vejo, não te conheço!
Se me queres perseguir, não o consinto...
Tu, não!
Jamais me levarás para o teu labirinto.
Não te quero para companhia, não te conheço
e tua ignóbil perseguição, desprezo!
És filho da desgraça e da cobardia;
és fouce maligna da vitória do dia-a-dia!
És filho da renúncia e da derrota...
por isso, nunca tentes bater a esta porta!
Triste do povo que conhece o medo, pobre dele,
jamais terá a liberdade e a vitória junto dele,
porque a gloriosa epopeia, essa, nasceu da valentia,
da coragem e do destemor, na aurora de cada dia!
Jamais o medo existiu no arrojo dos navegadores,
mas sempre na fé do triunfo, nasceram seus esplendores!
Jamais o desconhecido medo esteve no campo da batalha,
assim foi, e em muitos heróis, a bandeira, foi a mortalha!
Foi desprezando o medo, que o grito da liberdade nascia
nas noites escuras das ditaduras, e o facho glorioso vencia!
Povos destemidos estes que não conhecem o medo,
a gloriosa honra da Pátria sempre brilhará, com ledo!
Existirá o medo? 

– Só quando alguém não queira vencer!
O glorioso guerreiro assim disse: 
”Vencer sim, até morrer!”
Ter medo de amar a vida? 

- Não!
Lutar para melhor vida possuir? 

- Sim!
Esse, é um direito que todos devem procurar usufruir!
Pois sempre direi:
O medo não o vejo, nem tão pouco o desejo!
Que todos vejam a correcta luta na vida,

sem medos, mas com a estrela que nos guia, luz querida.


Valdemar Muge

O VELHO


Homem desta terra, recordas e meditas!
Do teu livro da vida e nas folhas
já amareladas pelos anos que te pesam,
vês tuas recordações que te afloram...
quantas saudades são que em ti moram.
Recordas amores da tua mocidade;
tua presença notava-se, bela idade...
hoje, só, apenas saudosas lembranças.
Tu vareiro, sabes que a gente desta terra
quanto brio têm e dentro de si encerra!
Olhas a terra que teus braços a virava
e o mar que a rede dele vinha e a abraçavas.
Tua voz, pela tua Ria se ecoava
e naqueles caniçais, tanto caçavas.
Hoje, velho homem desta terra,
ela te chama, mas como estás cansado...
o mar te ecoa, sentindo a tua falta
e a Ria te afaga numa terna carícia,
da contida solidão da tua existência!
Tu, que os ventos rasgavas, destemido!
Onde chegavas, tua voz era ouvida,
teu nome conhecido e fama tida!
Cessem os atrevidos e vençam os justos;
calem-se as vozes sem razão e clamem os verdadeiros!
« Aqui está um homem da terra vareira!»
- Assim clamavas por onde passavas.
Hoje, apesar de tua voz o eco menos se ouvir,
dentro do teu peito, o clamor do brio ainda o sentes

e o fluxo do teimoso capricho, nas veias ainda corre.
Sabes que és um velho desta terra,
mas és um vareiro que não sabe ceder!...
Idoso sim, mas três valores em si existem,
que um dia a sua terra, consigo os levará:
Dignidade, liberdade e paz!
Esses, sempre os clamará, enquanto sua voz ecoar.

O ABRAÇO UNIVERSAL


Sempre quero estar com a natureza,
ela é exemplo que a todos mostra e dá...
pois riqueza maior não vejo nem há,
porque a sua harmonia é paz e beleza.
Vejo como as frescas ondas do mar, no seu marulhar,
se estendem no grande abraço e querem ressoar.
Olhai como os peregrinos rios deslizam
com os seus calmos murmúrios de paz
que por vós passam, até que se enlaçam;
além, os Sois, as Estrelas, as Luas,
irradiando em convívio, serenos te olhando.
Vede as aves, no seu universal diálogo, cantam
e os animais, quanto possível, a paz desfrutam.
Vede os bailarinos ventos que tanto se abraçam
e as chorosas chuvas que por nós passam.
Vede pois a natureza que à nossa volta corre,
seja ela qual for,
ela a todos abraça e nos envolve.
E nós?
Abracemos a alegria!
Abracemos a esperança!
Abracemos a paz!
O ar, as nuvens, a luz,
tudo nos quer na sua suave quietude.
O dia sempre espera pela noite,
e, os dois, num abraço amigo, aguardam pelo amanhã.
E nós que fazemos?
Construamos a alegria,
para depois a abraçar!
Alimentemos a esperança,
para depois nascer a felicidade!
Edifiquemos a concórdia,
para abraçarmos a paz!

Valdemar Muge

O ALERTA DO RAPAZ


No monte do lixo abandonado (e quanto!),
recordações abandonadas, objectos inutilizados
e por vezes quantos alimentos estragados!
Rapaz que corre, que pede, que busca...
quanta pobreza esta, abandono, angustia.
Um velho tacho encontra,
uma corda busca
e duas baquetas prepara.
Rapaz sem pai,
que nunca sabe para onde vai...
e a pobreza, o enlaça e o agarra!
Rapaz triste, revoltado,
porque não é amado.
Ele clama a todos nós:
- Basta! Ouçam minha voz!
Hoje é dia de despertar,
aqui, urge o grito do alerta!

                                              (Pam, parram pam!)
O som do velho tacho ecoava
aos surdos ventos que sempre correm,
mas que hoje, despertam e não morrem!
Porque bates no tacho, rapaz?
- Para que se não esqueçam de nós,
temos fome e falta o calor de todos vós!
                                              (Pam, parram pam!)
Para paz haver e as guerras acabar!
                                              (Pam, parram pam!)
Haja amor para todos dar
e dos corações brotar!
                                               (Pam. parram pam!)
Acordem ó gente,
tantos abandonados nas ruas vivem
e tanto foram enganados!
Acordem,
com miséria não há liberdade
e sem trabalho não há progresso!
Tanto desperdício para tantos
e tão pouco conforto para muitos!
                                               (Pam, parram pam...
                                                      pam, parram pam...

                                                            pam, parram pam!)
Valdemar Muge

O BEIJO


Suave doçura entre dois corpos carinhosos,
prova sentida de seres quão amorosos...
o beijo, esse, sempre será
elo de quanto se amará!

Beijo de criança,
é pureza irradiada de esperança,
na fonte que brota
para o rio da essência que vai percorrer!

Beijo do jovem apaixonado,
talvez seja o mais cantado...
tem desejo, amor, doçura.
(Ó quanto se recorda e perdura!)

Tantos mais há, não menos carinhosos:
de mãe e pai, e quantos mais queridos,
são ósculos de afecto, de seres unidos,
testemunhos do coração, de sentimentos amorosos.

Ó ditoso beijo, o fugaz, que saboroso,
aquele primeiro, é aurora que desponta,
vida que renasce, desejo que encanta,
chama ateada, doçura amada!

E tu, beijo de partida, és amargo que fica
e se converte em recordações retidas...
quantos são para a despedida da vida
que nos deixam e que nos foram tão queridas.

Como o beijo fala... diz o que sente!
Será talvez o maior mensageiro, sem favor,
o elo da paz e do amor!
É semente que germina no coração de cada ser,
fruto que reproduz na vida de todos nós,
ao amanhecer!

Valdemar Muge

NO ESPELHO


Espelho que nele me vejo,
um ser do mundo que dele quanto me queixo!
Um humano neste turbilhão inquietante,
que sempre tem que protestar a cada instante.
Serei culpado?
- Grito à paz e não vejo a concórdia entre os povos;
Desejo a esperança da fraternidade entre todos
e não confiam no afectuoso amor que temos;
Amargurado me vejo quando queria em todos a justiça
e vejo-a tão transformada em iniquidade!
Mundo este, tão perturbado que te vejo,
ansiedade constante, para melhor, quanto latejo!
Tanta impudência camuflada no manto da bondade,
e tanta miséria encoberta na vergonha da humildade.
Pareço-me imolado pelo que em redor vemos,
e como maravilhosa é a vida que recebemos

e parece que muitos não a querem abraçar
quando a devíamos amar!
(Excelso hino de louvor devíamos cantar.)


Que desapareçam nos espelhos os culpados das guerras;
as faces do ódio e da maldade;
Os espíritos da vingança e da cobardia!
Loucos estes que não sabem o que fazem,
que vivem na escuridão da iniquidade.
Tu, que poderás moldar para melhor
este quadro desumano, atroz e de dor,
espalhar a paz e a felicidade,
ergue-te e clama a justiça, a concórdia e a bondade!


Como seria maravilhoso, todos se verem a um espelho
e se sentirem felizes neste mundo em que vivemos.

Valdemar Muge

O RAMO DE ROSAS


No teu regaço, rosas brancas levas:
teu abraço saudoso para teus queridos!
Elas são mensagens de quanta saudade...
nas campas as depositas, prova dessa realidade.
E tu, que no regaço seguras essas tuas rosas:
carinhoso laço, símbolo de gratidão e amor!
Prova singela de agradecimento ao que invocaste,
agora, àquela Virgem, as vais dispor ternamente.
E vós, que também rosas brancas levais:
essas vos são flores de quanta felicidade e alegria!...
São para os noivos, que uma nova vida os espera;
outras, para o ditoso aniversário, a alegria as eleva.

Receber uma rosa:
É encanto, é ternura, é amor.
Ditosa vida quando cheia dessa tamanha frescura
que o ser humano tanto deseja e procura!
Uma rosa:
É quanta saudade, nostalgia, louvor.
A vida, nos enche desses sentimentos
que nos fazem sentir quanto valor ela tem!
Numa rosa:
Quantos desejos de paz e amizade, nelas vão;
mas também quantas lágrimas e dor, ficam.
Vida esta, que tanto a elevamos como uma oração,
como também nos queixamos em tantos momentos!

Numa rosa:
Pode ficar toda a mensagem
que a vida pode dar:
Suas pétalas, são símbolo de felicidade,
e seus espinhos, quanta dor e sofrimento, na verdade.
Numa rosa, tudo isto ela representa e mais o que queremos,
pois nos recorda quanto o que na vida tivemos.
Uma rosa levarei para a outra essência,
recordações de todos desta vivência.


Valdemar Muge

ONDE ESTÁ MEU CORAÇÃO?


Onde está meu coração?! Onde?
- Ali! Na ternura para aquela criança;
no afago para o necessitado;
no carinho para o idoso!

Procuro-o...
e também encontro quanto retalhado
naquelas crianças com fome;
no sofrimento do nosso irmão;
na crueldade das guerras que tantos levam;
nos ódios e injustiças que se geram,
e na insensata juventude que se destroça!

Enfim...
         mas também te encontro:
no terno e querido beijo dado;
no nosso ente sempre amado;
no amor que se dá livremente;
na liberdade e na justiça, finalmente!

Agora...
         sei como encontrar meu coração!
Sei que está na felicidade de todos vós;
na alegria de todas as crianças, até ao mais velho;
na paz dos filhos, dos pais e dos avós;
na comunicação com Deus;
na força da vida de que desejamos!

Sempre quanto mais coração terei,
mais tenho para repartir e mais ficarei!


Valdemar muge

OVAR


Ovar!                                                                                                                                                                                                Minha terra para todos,querendo, a será!
Minha voz a cantará por toda a vida,
nesta poética lida... como ovarino que sou!
Alguém tanto a cantou? - Talvez, mas quem?...
Eu, porém, a exalo de dentro do coração,
pois me é uma canção, de amor e paz.

Seria ninho das aves que se acolhiam?...
Ou seria terra aparecida a pescadores solitários?...
É possível... mas eu vos digo:
Nesta gente laboriosa que vai ao mar,
quantas vezes ao ir para a faina, o diziam: "Ó Mar"!                                                                                                                     Assim foi ecoando e nos corações gravando.

Outros, na terra destas águas, sempre lutando...
também dito teriam que ficavam em “Ó Var”!
Juntos, unidos nas palavras e nos corações,
Ovar para todos brotou e seu nome assim apareceu!
Enfim, esta beleza nasceu, que a tantos encanta,
e minha voz se levanta, a esta terra querida!

Terra esta que a todos acolhe airosa,
é jovial para a juventude que te abraça;
Àquele que te enlaça, dás a força do labor;
Tu, trabalhador, seja de que for:
letrado ou pescador, ou qualquer outro artista,
para ela vinde, ela te espera e abriga!

Visitante, vem! Fica nesta terra.
Vê o que nela encerra e vê toda a sua beleza:
Formosa Ria que tanto encanta;
O mar que suavemente nos afaga;
Os rios que deslizam, cantando
quantos saudosos amores que por eles passaram.

Quando a aurora em ti desponta, terra minha,
teus campos e canteiros encantam, ó sedução...
como estás em meu coração, natureza tua.
Além, ouço a beleza do pregão da varina graciosa;
O cantar da jovem airosa e a fadiga do vareiro:
é a vida que oferece esta terra que permanece.


Valdemar Muge

PARA ONDE VOU


Mas para onde vou?
- Pelos vossos caminhos, não!
Para não ir convosco,
quantas vezes desejo fugir com o vento!
Para não seguir as vossas vozes,
quantas vezes quero deslizar com a aragem!
Para não querer as vossas injustiças,
quantas vezes quero voar para bem longe!
Ao certo, não sei para onde vou,
mas pelos vossos caminhos, não
e vossos devaneados passos, não os sigo!
Sei que quero seguir
o caminho de justiça e da concórdia;
seguir a voz da harmonia e da paz;
percorrer com todos, de mãos dadas,
alegres e felizes, os caminhos da verdade e do amor!
Pelos vossos caminhos, não!
Mas vou por aqueles que acho mais justos,
mas que também possam ser mais difíceis!


Valdemar Muge

PAZ


Sabermos viver sem ódio e rancor,
é paz que oferecemos, paz de amor.

Espalharmos alegria e serenidade,
será paz cheia de fraternidade.

Como bom é amar o semelhante,
é irradiar a paz em cada instante.

A paz nunca morrerá, enfim,
se a concórdia viver, em ti e em mim.

Clamemos para que as guerras acabem,
e as vidas com paz e amor, vencerão.

Se procurarmos a paz e a justiça,
encontraremos a merecida tranquilidade.

Se a rectidão habitar no dever,
a paz viverá em todo o ser.

Amigos, sejamos sempre bons irmãos!
De corações afectuosos, daremos as mãos;
abracemos a paz, unidos, e clamemos:
“Viva a paz, a paz que queremos amar,
porque ela é o elo de toda a felicidade,
de hoje e sempre seja essa a que
todos nós queremos cantar”!

Valdemar Muge

PÉTALAS DE POESIA


Pétalas que ao vento se espalham,
vede, como elas se oscilam,
saudosas deslizando, se dissipam!
À minha volta, estas rosas se vão desfolhando...
suavemente morrem, e eu, saudoso meditando.
Sua existência, se extingue, ó quanta beleza!
Agora, são recordações, tristeza,
fragmentos de amor da natureza!

Nas minhas mãos, elevo estas pétalas sofridas,
ergo-as como um hino a tantas vidas queridas;
foram suave bálsamo a tantos corações,
mensagens de felicidade e também de ilusões;
estas recordações que hoje vos canto,
que minha voz ao vento, levanto,
eram pétalas belas, queridas!
Agora...
São pétalas tristes, sofridas.

As primeiras,
dos pais queridos, abraço filial,
recordações de ditoso amor sem igual!
São pétalas pelo carinho que destes,
feliz vida, que à vida me oferecestes.

Para vós irmãos, as pétala da fraternidade.
Quando juntos, tamanha era a felicidade!
Hoje ausentes... são saudades, recordações,
Tristezas para os que não voltam, ilusões...
Do imigrante, a sempre querida ansiedade.

Destas mãos, vai a pétala querida, à esposa amada,
prova de afecto, talvez nem sempre acarinhada...
Não é com estas palavras que o maior amor propaga,
porque estas, alto se houve, mas como se apaga!
Vindo do coração, sim! É quente, é chama ardente,
é amor que não arrefece e arde constantemente.

P'ra ti, filha, uma rosa em botão, pétalas douradas;
Aqui a tens! Doce, amorosa... à inocente amada!
Pequenina parece ela ser, como tu o és...
Mas quantas vezes, aquilo que parece ser, não é,
porque o amor por ti, tamanho maior não há, como vês!

Vós, amigos,
vão as pétalas da amizade...
Guardai-as!
Achai-as singelas e modestas? - Talvez...
Mas não julgueis pela aparência, no que vez...
Maior valor tem, o que dentro de nós vem,
tamanho amor, nosso coração contêm!
Elas são o laço da fraternidade
que canto, nesta mensagem de felicidade.

As pétalas que aqui vos dei,
são pedaços de vida que vos cantei!...
Em todos os versos que escrevi,
está essência de tudo que amei e vi;
Vós que recebestes estas recordações,
com afecto as dei aos vossos corações,
são pétalas de poesia, duma vida
que vos abraça e que me é querida.

Valdemar Muge

PRIMAVERA


Vamos dar as mãos, observai a natureza,
a bela primavera floriu,

seu encanto aí está como sempre se viu.
À nossa volta, floresce nova vida,
há alegria, maravilhoso nascer, é poesia.

Correm crianças, como são felizes;
juventude que canta, amorosa está;
gente sorridente, saúda a nova vida
a esta natureza, nesta primavera merecida!

Natureza esta que sempre é jovem e agradável,
mas a primavera da nossa vida, quanto encanto tem...
Ó saudade que de ti tenho, como és fugaz e findável!...
A que hoje tenho, conforto dá, esta, muitas vezes nos abraça...
mas a nossa primavera, a tão querida, a da nossa vida,
quando desaparece, enfim, não mais nos enlaça!...

Como a nossa é suave, é bálsamo do amor;
é jovem alegre, e anseia para sempre o ser;
quantas vezes insensata é, porque sonha com ardor;
é aventureira e luta para não cedo morrer.

Como a mocidade é irrequieta e persistente,
porque a primavera anda dentro da gente.
Não a queremos perder e sempre a amar,
assim, somos felizes e sempre o queremos estar.
Abracemos, tenhamos em nosso coração
a primavera do amor e da paz, irmamente.
Em nossos espíritos sempre esteja a primavera,
e a vida maior valor terá o que dentro de nós encerra!

Valdemar Muge

PROÉMIO


Bendita luz que à minha volta se propaga!
Do escuro vim, sem que nada soubesse. Tudo me espera, tudo me quer, sem que nada tivesse e desse.
Nada tinha e tudo me foi oferecido, sem que nada pedisse.
Abraço-te Natureza, meu ser nela se envolve e dela faço a humilde parte da minha existência.
Percorro os caminhos ao encontro do encanto que a sua beleza me desfruta, mas vejo tantos indefesos recantos que o ser humano maltrata e mata;
Na caminhada iniciada, procuro nos povos o bem-estar, mas encontro tanta pobreza oculta da falta de trabalho e doença;
Percorro os caminhos da compreensão, à procura da paz e da concórdia, e encontro tantos trilhos da ignomínia e da injustiça;
Percorro na estrada da vida, ao encontro do amor e da felicidade entre todos, e encontro tantas escarpas onde o homem se deixa escorregar desatinadamente para o ódio e volúpia.
Caminhada da esperança, que se transforma em desilusão.
Vim para abraçar a natureza, aquela onde todo o ser humano pudesse ser compreensivo e feliz, mas encontrei algo bem diferente, que faz dilacerar os corações pela falta de compreensão.
Na caminhada da vida, vesti-me com o fulgor da alegria, tentando espalhar tanta quanta possível junto da tristeza encontrada;
Vesti-me com o manto da paz e felicidade, deixando germinada nos corações que me quiseram ouvir;
Vesti-me de caminhante da esperança, sempre procurando a luz da verdade e da justiça, da concórdia e do amor! Continuarei sim, com a força da esperança, de encontrar a paz com o amor desejado.
Vim em dia de festa, cantaram-se alegrias e louvores ao nascimento. A aurora à nova vida resplandecia e a primavera em breve viria, a pródiga natureza era inundada com as boas vindas àqueles que nasciam, num elo de fraternidade e compreensão. Eis a união da vida, do amor e da esperança!
O ser humano confunde-se facilmente. Como suas almas são flexíveis e contornáveis: umas seguem os caminhos que o Criador da natureza aconselha, difíceis, mas gratificantes; outras, os caminhos mais fáceis, com metas e destinos obscuros e confusos, germinadores do mal e violência.
Quantos sonhos que construímos e transportamos, mas como se diluem nas sulcadas da vida.

*

Nos meus versos, encontrareis pétalas aspergidas aos vossos corações, algumas manchadas de dor e sofrimento que não pude deixar de escrever, elas são, sentimentos tidos através da caminhada realizada.
Encontrareis também nestas páginas, tantas outras pétalas de beleza e encanto, nos costumes e tradições existentes dum povo, na sua fé, na alegria e felicidade.
Na vida, quantas flores brotam: tantas com espinhos que os corações ferem, mesmo que belas sejam e outras, menos belas que sejam, ao coração de carinho transborda.
Repousemos e meditemos na natureza.
Nela, procuremos a alegria que o Sol nos oferece, a Luz que ilumina os verdadeiros caminhos da vida e da felicidade;
A nascente da água, seja meditação e força viva dos trilhos que temos a percorrer, tal como ela, com o seu cristalino líquido, a pureza e a transparência que nossos corações devem transparecer;
Procuremos na terra trabalhada e fertilizante, a fecunda seiva que brota para a vida, o renascer constante que dela gera, vida que nos abraça e que todos os dias a desfrutamos, exemplo de que todos os nossos dias deve ser contínuo renascer de paz e amor.
Deixemos ouvir o chilrear do pardal ou o chilrar da andorinha, o farfalhar da árvore ou o bramar do mar, e nossos corações receberão o bálsamo reconfortante da serena paz!
Foi desta natureza, terra mãe onde vivi, que nasceram as pétalas que vos dediquei nestas páginas que à vossa frente vos espera, na mesma que também um dia o tumulo se abrirá ao corpo esfriado e à alma que aqui percorreu, enfim.

*

Eis aqui os meus versos!
Eis os sentimentos que trespassaram para o exterior, e o lápis, cúmplice e atrevido, revela as doçuras, tristezas e alegrias contidas, quantas vezes guardadas em segredo. Ai atrevido lápis!
Eis à vossa frente, meus amigos, os meus versos, pincelados em várias cores, na tela da vida, na esperança de que vos sirvam para alguma coisa, que vos entre nos corações e vos faça recordar por muito tempo o vosso bom amigo que vos dedicou estas letras com todo o afecto.
Eis o meu modesto testamento que vos deixo, já que outro não posso declarar.
Tentei-as cantar, mas minha voz rouca, aos ouvidos estremecia, e meus lábios tímidos, a voz tremia... Assim, vos ofereço de coração para coração, (assim me foi possível contactar com todos.)
Eis os sentimentos transbordados, sensíveis ao que vi e amei, para todos que os queiram receber, fragmentos poéticos envolvidos nestas folhas de papel, prontas a vos acompanhar na caminhada da vida.
Eis os versos duma caminhada que viu a Luz do Sol, dádiva da força do Criador;
A serena noite, prólogo para o sempre renascer do novo dia da esperança;
A brisa, mensagem refrescante a lembrar a paz e o amor em todos os homens;
A chuva, seja o alimento da natureza de que todos devem respeitar e cultivar!
Nestas páginas, está o encontro com a criança, seu encanto e doçura cativantes;
A beleza da mulher, da sua juventude e o admirável ser mãe;
No pobre que pode ser nosso irmão e no homem que não quer ouvir a esperança da concórdia!
Eis o homem que vos fala, ser que vos quis transmitir aquilo que pensou, sentiu e que sempre desejou.
Memórias que ficarão para vós e para os que virão, comigo fica a vossa dedicação, respeito e amizade.

Valdemar Muge

QUANDO O VENTO VEM














Vento este que vem,
com suas palavras...
vento chegado,
quantas tristes saudades gravadas.
Vem o vento
deste mar de marejar revolto...
de palavras penosas,
de clamores lancinantes ao ar solto!
Vento de suão que de longe vens,
és violento e suavidade não tens.
Veio este vento,
de vozes angustiantes...
de queridos que ficaram,
corações vazios quanto se amavam...
Para que vieste
ó malfazejo vento?
- só trazes mágoas aos corações ansiosos
e lágrimas aos olhos que o mar lhes roubou.
Vento que de luto almas cobres...
riqueza, aos corações a eles tiraste
e quanto os deixaste mais pobres.
Vai! Vai de volta,
leva os choros e saudades...
lágrimas escaldantes
que já não consolam.
Vai de volta com o choro dos

corações lacrimosos, leva...
Aqui, fica o vazio
neste mar
que mágoas traz
e não consola!


Valdemar Muge.

REFLEXÕES


O momento de reflectir do tempo vivido,
sempre nos aflora, quem o não tem?
Seguir o caminho destinado,
percorrer os caminhos da vida,
tentamos vencer os obstáculos, tropeça-se,
mas a vida que se encontra, essa, como é bom amar…
Maravilhosa história que temos para contar.
Fazemos parte da natureza que a nossa volta existe,
ela, é vida complementar da nossa existência.
Nos meus versos, cantei o que mais amo,
sempre quanto o que à minha volta vi.
Ao escrever, o sentir esvoaça deste fragmento da natureza
de que dela faço parte,
como as pétalas da flor que dão o aroma à poesia,
que se exala em cada ser.





ABRAÇAI AS CRIANÇAS, SÃO AMOR








Cantei à criança, a alegre e feliz,
período da vida de maior encanto e pureza…
Pois elas são irradiação de tanta beleza.
Também o fiz à infeliz, que sozinha vive sem paz e amor,
sem culpa, sofre as consequências das guerras,
do desleixo e das ganâncias dos homens!
Por quanto tempo este, ainda irá continuar
esta agonia da humanidade?
- Todo o homem devia amar, mas muitos vivem para matar!
Abraçai as crianças, e a paz do amor, florescerá.
Elas são a esperança que um melhor futuro virá;
elas querem compreensão, porque trazem doçura;
elas querem felicidade, porque trazem alegria;
elas querem amor, porque trazem paz.





MULHER, É DOÇURA QUERIDA









Cantei à sempre e querida mulher,
desde da jovem até à mais idosa,
porque são fluxo de quanta poesia:
São alegria, amor, amparo e carinho;
são vida que vida dão, mesmo por vezes dando a sua!
À afectuosa esposa, ditoso casal que a tem;
à exemplar mãe, sublime acto que a mulher pode dar;
a dedicada à causa do bem estar da humanidade,
é mulher digna que sempre deve ser cantada!
Mulher é pois elo da fraternidade e da paz.
Quantas lágrimas a mulher brota na sua dilacerada dor,
nos seus momentos de aflição e desgostos,
nos seus silêncios e resignações,
mas quantos corações faz sofrer em paixões amorosas
nesta humana vida que o ser é tão difícil de
compreensão e sensível aos desejos do coração.






MULHER VAREIRA, SAUDADE RECORDADA








Cantei à mulher vareira, simples e humilde,
àquela que coloria a rua com o seu pregão e graciosidade,
tão características da sua terra.
Hoje, dessas, pouco já encontro… os seus pregões
já não se ouvem e a graciosidade longe já vai.
Onde está a juventude que nas noites sanjoaninas cantavam
e dançavam à roda da fogueira, nos seus típicos bairros?
Construíam o seu pavilhão de canas e pinheiros
e o engalanavam de flores e coloridos balões;
a alegria espontânea brotava dos seus corações.
Mocidade esta... Mocidade bairrista e alegre de folgar;
mocidade que se mascarava em tempo de Carnaval
e sabia brincar em diálogo gracioso.
Agora, quanta passa com ar de intelectual,
a mulher que já não parece ser a que sempre cantei;
a mulher que pensa ser aquilo que é,
mas é aquilo que pensa não ser.



   


  NOSSA TERRA, ABRAÇO PARA A VIDA






Jamais esqueci a minha terra,
tentei cantar o que nela encerra.
Ao seu povo, aquele que labuta por uma vida melhor,
povo que no seu coração, também sofre na vida...
mas quanta alegria dentro de si também possui:
a folia e a felicidade lhes trespassa nos seus peitos,
maneira de ser desta gente, que a todos quer abraçar,
a todos tenta ser um amigo, um companheiro, um irmão.
Razão porque gente de longe aqui ficou
e esta terra abraçou.



MAR, REFLEXO DA VIDA








Cantei aquele mar que as macias areias vem afagar,
que nas frescas manhãs nos chama à sua carícia
e as tardes nos atrai, para com ele estar!
Àquele mar que nos encanta na mansidão da sua frescura,
e a aragem que dele vem, envolver todo o seu povo;
ao seu murmúrio que junto dele nos embala
em deleite amoroso dos seus apaixonados.
Mas também quanto bravo és aos teus pescadores,
que na dura labuta, tantas vidas tens roubado;
dores dilaceradas trespassam nos corações…
Mar este que és, de encanto e desencanto,
para os que te abraça, és felicidade e também desgraça;
para muitos, és regalo e prazer;
para outros, és labuta e angústia:
vida esta tão desigual que se enfrenta
e não se chega a compreender.




RIA, REFUGIO POÉTICO







Cantei à ria desta beira-mar:
Ela é beleza que sobressai a quem por lá passa;
é suavidade que se sente e sempre nos enlaça;
é acolhedor espelho que a vaidosa lua vem espreitar;
é sonhador recanto da natureza que tanto nos deleita.
Mas hoje, quanta tristeza nos dá com tanta poluição…
Gente sem escrúpulos que não estimam a sua natureza.




VIDA, HINO SEMPRE CANTADO










Cantei à vida e sempre o farei;
a da esperança que procuramos para o futuro;
a da alegria, da paz e do amor.
Ela seja o germinar da generosidade com o semelhante;
o elo da fraternidade entre os homens;
a força Divina para que todos sejam bons irmãos
e um mundo de paz sempre resplandeça.



QUE A PAZ REINE EM TODOS OS CORAÇÕES






Nos meus versos, a religiosidade do povo que cantei, não foi esquecida,
pois a sua fé que se propagou durante anos,
nos dá mostra nas suas procissões seculares
onde tantos forasteiros as vinham ver,
mas hoje… menos se vê.
As Capelas que nesta terra existem e outras mais então,
são marcos que comprovam a fé que sempre tiveram,
mas na evolução do tempo, parece que essa nele se tem diluindo.
A chama da fé, vem na constante renovação do amor que Cristo clama!

Em cada dia, alimentemos a seiva do amor e da paz!
Bastaria o verdadeiro entendimento entre todos:
A cruz da compreensão e da fraternidade, é humana;
a cruz do amor e da amizade, é a bondade;
a cruz da paz e da felicidade, é a verdade;
a verdadeira cruz da glória, seja o amor entre os homens,
que como seria bom todos a quisessem abraçar,
e assim, a paz reinaria nesta Terra tão conturbada!

Cantar ao amor, é cantar à paz e à felicidade,
é cantar à esperança do entendimento entre todos
e não se destruam a si próprios.
Encontraremos assim, povos em progresso e felizes.

Estes meus versos que cantei,
foram mensagens que melhor pude transmitir;
foram sentimentos que quis oferecer,
saudade que é bom recordar;
belezas que vi e nos faz amar;
são fragmentos da vida que passamos;
são pétalas de poesia, que no futuro recordamos e amamos.

Valdemar Muge

RESIGNAÇÃO

 
Onde estou? Onde estou?!
Ó luz que me falta,
ó escura vida que se levanta.


Triste existência que te envolve
no coração, na alma, se expande e consome...
Hoje, recordações, na tua vida se aflora...
e no teu jardim, guardas as belas flores.
Ó mocidade de sonhos e amores,
alegrias e desilusões!...
Branca flor que és,
sempre a serás e dentro de ti sempre a terás.
Hoje, outras já não vês,
mas daquelas que guardas, o suave aroma
transmitirás sempre aos outros corações!
Elas sejam a esperança, o amor, a paz
e flor sempre serás!
Tenhas a Luz na caminhada ainda a percorrer
na estrada da tua vida enquanto viver;
o teu amor que ainda possas difundir aos
que estão à tua volta
e a serena paz para o teu espírito,
para suportares a tua cruz.


"Onde estou!"


Esse teu pranto que te envolve,
tenha a resposta dos corações
a ti irmanados na amizade, na afeição
e no carinho que te dedicam.

                                                                          2008      
Valdemar Muge

ROSAS



Rosas  brancas, singelas, tão puras,
que  suave  perfume exalam no meu coração:
Doce  amor,   paz   e   beleza de tão tuas...
Rosas  do  meu  jardim,  sois  símbolo de afeição
para os que querem   amar,
e símbolo são de partilha
para  receber  e  dar.
Vós  sois  mensagem   de   paz,
de singeleza,   encanto   e   pureza...
É  bálsamo  que  nos  deu  a  natureza,
que   a   nossos   corações,   nos   traz.
Oh! Se   eu   pudesse   ser   rosa,
e  seu  encanto  como   ela   ter,
da   terra   saía   e   iria   correr
por  todos  os  povos, os abraçava,   airosa!
A  todos  dava  a   minha   mensagem
de que todos  tinham de  ser  felizes,   afirmava!
Uma   rosa   em   cada   coração,   deixava
para   florescer   uma   nova   e   feliz   vida.
Rosas  do  meu  jardim,  rosas  desta  terra,
como   vos admiro e vos   quero...
Vos peço, rosas minhas:
Ide!  
Enchei   toda   a   terra,
cobri-a  e   que   tudo   seja   belo!
Mostrai   donde   sois
e  dai  a  pureza  que  vos  encerra.
                E vós, que me escutais,
                se rosas não tiverdes, não importa!                                                                    
Levai as flores que tenha o vosso afecto
e espalhai-as por toda a parte, que a Terra bem precisa!
Sejamos criadores das flores que a humanidade procura
e os jardins da fraternidade, sempre rejuvenesça e dure!

Valdemar Muge

SAUDADES


Que saudades tenho da Natureza
que não vi e que não percorri!
Saudades mais vou ficar,
quando não mais a poderei desfrutar...
essa, que sempre quis amar!
Quando eu aqui não estiver,
irei no vento voar por aí,
para respirar o mar que não vi;
irei deslizar na suave aragem,
refrescando os verdejantes campos que não respirei
e as montanhas sinuosas que não avistei.
Irei no pássaro da paz,
abraçar a Natureza com que sempre sonhei;
irei num raio de luz
afagar os corações queridos
que sempre amei.
Voarei feliz, ao encontro da paz
e com a paz
que sempre desejei.

Valdemar Muge

SAUDOSOS TOQUES

Ó torres que o céu olhais,
campanários da minha terra:
lembram preces que ao cimo se elevam,
testemunhos de fé dum povo que encerra;
são como braços que se erguem ao céu,
de gerações que passaram, que aqui viveram.

Ó torres da minha igreja,
que de tão longe vos via…
sempre ouvi no tanger dos teus sinos,
ecoarem mensagens alegres e pesarosas:
toques queridos que o povo os compreendia,
nascidos nas suas tradições tão nossas.

Quantas saudades dos alegres repiques
que tanta felicidade irradiava!
Ó saudade, saudade...
das queridas Ave-Marias,
melodias belas eram e respeito nos faziam;
Aquele penoso dobrar dos sinos,
quão lamentoso e triste
pela morte do ente querido,
tantas lágrimas viste!

Onde estão, onde estão?
- Não sei, já lá vão!
Saudosos toques estes,
que não os ouço,
pois aqui, já não fazem pouso.

Que ouvis hoje ó gente desta terra,
que em vossos corações, a mágoa encerra?
- Música encaixotada,
nova técnica computorizada.
O musicólogo apenas sabe uma melodia:
na tecla carrega e sai a sinfonia…
grande intelecto este que veio à luz do dia!

Seja casamento ou baptizado,
defunto ou reformado,
todos levam o mesmo repique,
para não haver mais despique!...

Senhores ! Dizei-me a este meu lamento,
de rouca voz que foge com o vento:
- Se nossos sinos jamais se dobram
nas torres onde eles moram?

Tristes por tão silenciosos,
a mim se juntam, quão pesarosos.
Unidos, para o céu suspiram
nos braços das torres. irmanados, clamam!

Não os ouço, quando de tão longe os ouvia!
Agora, meu olhar na saudade fica,
neste triste silencio povoado, recordando
aqueles que ecoam o sentimento de seu povo.

Valdemar Muge

SE FOSSE VENTO


Se eu fosse vento,
livre seria como o tempo!
Corria... corria  por toda a parte,
sinuoso dançava, feliz, como escultor de arte,
e a morada, seria toda a Natureza,
abraçando toda essa beleza!
Vento seria e a todos abraçava
com amena frescura a dava.
Se fosse vento,
com o mar era embalado;
nos rios deslizava, cantando;
no espaço, aspergia levemente
para todos a suave felicidade, tão ausente.
Livre, só tu, vento!
Livre seria então, em todo o tempo...
das ditaduras dos homens sairia
e a liberdade do Universo teria!

Valdemar Muge

SEMANA SANTA


Ó gente!
Vós, que acreditais no Cristo clemente,
olhai para Ele!
Vede a pungente dor que o trespassa;
Vede o Cristo bondoso e compassivo
que junto de vós passa!
Meu ser, dolente, nesta vida o sigo:
“o misericordioso que nos fala ao coração;
o libertador do túmulo, para a nova vida;
o desejado da esperança da vida querida ,
-bendita seja esta opção!-

Olhai-O, que junto de nós passa,
(e sempre em toda a nossa existência)
e seu triste olhar nos trespassa;
foi-nos dada por amor, a sua vida:
grandiosa prova, sublime e excelso querida!

Eis o Cristo, o perdão!
O mensageiro da paz e da concórdia;
eis o rochedo da salvação;
o apaziguador da discórdia.
Deu-nos o exemplo quanto a vida vale por amor;
O recordo a caminho do Calvário,
com seu rosto já no santo-sudário…
grande é a sua dilacerada dor!

Eis o mensageiro de Deus,
o exemplo do homem justo!
E qual a recompensa?
- Foi sua vida na cruz, doloroso custo!...
Cristo bendito!
Por mim, na cruz foste exalado;
teus braços, abriste, ao teu povo amado!
Por todos, dilaceraste teu peito;
fizeram-te chaga amarga, ó desrespeito!
Mas todo aquele que arrependido vier,
o abraçarás, eis a Sua sublime dádiva!

Penitência, ó gente!
Penitência, ó mundo em porfia!
Meditai nesta semana-santa! Que bom seria...
meditai no exemplo que Cristo nos deu,
tão escarnecido Ele foi,
ultraje que nunca o mereceu.

Erguei vossas vozes, louvai-O e glorificai-O;
saí da penumbra do abismo e reverenciai-O;
bebei da água da vida, a que Ele nos deixou
e segui a Luz do seu espírito, aquela que nos doou!

Salve Páscoa gloriosa, nos exultemos de alegria!
Cristo ressuscitou, grandioso para nós este dia.
Eis o seu testemunho,
pois este é o seu divino cunho!
Glória a Cristo, todos o bendizemos
a Ele, que todos o exultemos!

Ressoem as vozes vindas do coração,
elas que venham como uma oração
de todos aqueles que O acreditam,
e, seu amor baixará nos que Nele meditam!
Deixou-se imolar na cruz, este foi o seu troféu,
o Redentor do mundo, eternamente venceu!
Ele, é a glória dos homens de toda a terra,
bendita felicidade, germinada do amor, que nos encerra!.

Valdemar Muge

SOU


Quem sou?
- Sou o que consegui ser,
e mais serei, o que é exequível querer!
Vivo na existência da honra
que ama, sente e tem coração!
De junto do mar, sou!
Aqui, minha vida nasceu
com a maresia a embalar
e a essência nela envolta, cresceu!
Sempre que o mar me vê, me afaga
com a carícia das suas ondas.
No fascínio da Ria,
tanto sonhei, tanto,
quanto encanto
ao a contemplar, sentia...
Sou da terra dos homens do mar,
gente humilde, que faz ecoar seu pregão!
Do mar, lhes veio a vida,
ao mar a doou,
e nele, vivem a labutar!
Sou da terra dos que trabalham o arado e charrua,
povo crédulo, mas também orgulhoso na rua;
sou de onde se quer trabalhar,
povo este assim é, donde nasci,
terra mãe, onde cresci.
Sou de onde se sofre e se sabe amar,
daqui sou, desta orgulhosa terra: OVAR!

Quem sou?
- Um simples ovarino,
que a voz hoje ecoou!
Daqui sou, e aqui estou!
Como o humilde oleiro,
na sua singeleza de obreiro,
estas letras escrevi:
a vós, do coração as dou,
dizendo quem sou!
Serei um sonhador?
- Direi que sim! Desejando o amor
envolto na beleza que admiro,
na sedução do formoso, extasiado fico!
Direi que também serei um apaixonado...
da natureza desta terra
aprazível  no que nela encerra.
Terra bela esta,
(valor que a natureza doou)!
No seu deleite, me sinto amado:
razão porque sinto a seiva da sua doçura,
a frescura do seu encanto, - doce e pura -
e o repassar amargo do suor... (que nela existe);
Mas como fico triste,
ao ver a desagradável inquietude
e a obstinada incúria que também nela existe...
vida duma terra querida, que com ela latejo!

Quem sou?
- Hoje, num ser triste estou:
quão é triste o meu espírito,
quando a felicidade à volta não existe;
Quando a miséria se espalha, matando
tantos indefesos inocentes, os destroçando;
Ao ver outros devastando, gozando
riquezas obscuras, sem proveito, jorrando!...
Ao ver órfãs crianças abandonadas,
efeitos de guerras, vidas dilaceradas...
lutas que se geram por ambição, gente malvada!
Ao ver tanta droga espalhada,
vidas destruídas, vício, vidas à vida tirada.
Sem que seja contestador,
apenas procuro dizer o que maior valor tem,
mas, mais além, não vou!
Procuro ser o mais justo possível,
na esperança de outros também o possam ser...
assim, é que deveria ser, seria admissível!
Assim sou! Assim, aqui estou!
Agora que sabeis quem sou,
um ser que a natureza ama,
amor que dentro de mim vive como chama.
Vivo no quotidiano duma terra,
vida que aqui nasceu,
sou seiva que aqui encerra
e aqui permaneceu!
Sou de todos, que me ouvis,
daqueles que comigo diz:
" Amemos a paz, o amor, a felicidade!"
- Seria bom, que assim sempre fosse a verdade!

Valdemar Muge

TE CHAMO FLOR


No meio dessas singelas flores,
te encontras Maria, com essas cores...
crê, que por elas serem simples e puras,
não menos valor têm, são candura!
Tu, ó idosa flor,
viçosa como elas, já o foste...
mas não deixas de flor ser,
pois tua alvura ainda sobressai no teu rosto!
As flores que vendes,
depressa se desfolham e o aroma se dilui...
são saudades quantas que se vão...
mas tu, continuas a ser flor,
apesar de teus tristes olhos
revelar as saudades dos que te foram.
És flor, Maria, que perdura
no meio dessas que hoje são viçosas
porque essas, por mais mimosas que sejam,
se tornam feculentas.
Tu, te chamo flor,
pelo teu sorriso no meio dessas
e dentro de ti,
teres a suavidade e candura
que transpareces e vi!

Valdemar Muge

VAREIRO







Vareiro! Orgulho tens da tua terra,
és tesouro bairrista, que sua alma encerra.
Em ti corre sangue de homem corajoso,
e no coração, sentimento dum ser bondoso.
Vareiro, que nasceste junto ao mar, dele és,
e enamorado o mar, te bem beijar a teus pés.
Nos teus campos, quanto trabalhas...
quão suor desliza nas tuas lavras.
Do teu corpo, exalas a maresia do mar,
aroma da tua terra que esvoaça e te quer dar.
Tens a coragem para o mar enfrentar;
a audácia para à fúria dessas águas lutar.
Na tua grave voz, tens o som do mar encapelado
que em horas de luta, vences esse malvado;
Em teus braços, a força do teu labor
que dia a dia vais vencendo, trabalhador!
Vareiro de alma sublime, também a contens;
do teu coração, quanto dás àqueles, o que tens.
Vareiro da minha terra, vareiro de Ovar:
És sincero ao amigo que te quer;
és delicado á criança que te abraça
e amoroso à sempre amada mulher!
Teus sentimentos se exaltam a cada momento:
A constante alegria que de ti brota;
as paixões que inflamam com sentimento,
e a amarga dor que por vezes te consome.
Tu, também és artista e poeta,
e quão religioso que ao Cristo se genuflecte!
Tu, que amas e sempre amarás a tua terra,
queres-lhe a essência que nela encerra
desde os verdes campos até ao mar
e a toda a gente desta tua Ovar!.



Valdemar Muge

VARINA



Varina d'Ovar, és um hino que desfrutas!
Tu que me estás a ouvir:
Tu és mulher que da terra ao mar, labutas,
és também aquela que sabe rir!

Quantas vezes ouço o teu pregão,
pela aura da minha rua;
de ti, sai essa viçosa expressão,
que é mesmo incomparável tua!

Daqui saíste para terras além
e espalhas-te tua sedução sem fim!
Como a varina de Ovar realça e tem:
encanto, beleza, graciosidade, enfim.

De descalços pés, leves,  juvenis;
saia xadrezada, graciosa te contorna;
blusa garrida, te faz mais esbelta
e o lenço solto, mais bela te torna!

Com a canastra cheia, ela lá vai...
seu pregão, ouve-se alegre e feliz:
-"É carapau fresquinho do nosso mar!
quem quer, quem quer, fresquinho  a saltar!"-

Assim te ouço, airosa varina!
Como ninguém mais sabe e o diz.

Tens o iodo salgado desse teu mar...
com ele, aprendeste a discutir e a amar,
mas também a sofrer... quantas vidas
te são roubadas e eram queridas!

Varinas!
Dentro de vós, eis o que vos encerra:
A alma e a beleza da poesia desta terra
que suavemente desliza até ao mar,
onde nasceu a mais bela varina,
Varina de OVAR!

Valdemar Muge.

VERÃO


O calor e nos abraça,
desejoso Estio que sentimos afagar.
Sol que aquece, abençoada chama,
morena cor nos deixa e nos enlaça,

afago da natureza que nos ama.

Contigo, gente que corre, canta e felizes amam…
divertem-se, trabalham e descansam.
Para as crianças, dás alegria e vivacidade;
para o laborioso, tempo para labutar,
e para outros, o repouso que veio alcançar.

As aves felizes, teu convite lhes ofereces;
nos campos, respira-se o amadurecer do fruto;
os rios, refrescam esta natureza desejada,
e eu, ao ver toda esta natureza profunda,
meu ser, de sublime amor se inunda.

Não importa que chova ou o vento corra,
o calor que sempre se anseia e nos vem,
é recompensa dos que dele precisam e agora têm!
Quantos que dele fazem a manta para seu abrigo,
mas no Inverno, já outro Verão não abraçam!


Valdemar Muge

VIDA


Gente que corre feliz, amando,
elas chegam, se abraçam e partem:
é a vida que nos abraça e vem!
Há desejos, canseiras, amores,
ó quanta festa, ilusões e dores...
Gente que luta pela sobrevivência da vida;
Mães na dor do seu parto - amor sublime -,
erguem um novo ser, que nasce para a vida!


Águas que correm quase cristalinas,
- e não só... -
que beijam doces lábios e faces finas,
- e também a pesada mó... -
Águas que guardam segredos amorosos,
tragédias e actos valorosos...
Que bom é ver e te querer,
o dia me ama e a noite me afaga,
que vida querida esta, que me abraça!...
Vida é constante renascer
para sempre a felicidade viver.





Valdemar Muge