Saturday, August 05, 2006

PROÉMIO


Bendita luz que à minha volta se propaga!
Do escuro vim, sem que nada soubesse. Tudo me espera, tudo me quer, sem que nada tivesse e desse.
Nada tinha e tudo me foi oferecido, sem que nada pedisse.
Abraço-te Natureza, meu ser nela se envolve e dela faço a humilde parte da minha existência.
Percorro os caminhos ao encontro do encanto que a sua beleza me desfruta, mas vejo tantos indefesos recantos que o ser humano maltrata e mata;
Na caminhada iniciada, procuro nos povos o bem-estar, mas encontro tanta pobreza oculta da falta de trabalho e doença;
Percorro os caminhos da compreensão, à procura da paz e da concórdia, e encontro tantos trilhos da ignomínia e da injustiça;
Percorro na estrada da vida, ao encontro do amor e da felicidade entre todos, e encontro tantas escarpas onde o homem se deixa escorregar desatinadamente para o ódio e volúpia.
Caminhada da esperança, que se transforma em desilusão.
Vim para abraçar a natureza, aquela onde todo o ser humano pudesse ser compreensivo e feliz, mas encontrei algo bem diferente, que faz dilacerar os corações pela falta de compreensão.
Na caminhada da vida, vesti-me com o fulgor da alegria, tentando espalhar tanta quanta possível junto da tristeza encontrada;
Vesti-me com o manto da paz e felicidade, deixando germinada nos corações que me quiseram ouvir;
Vesti-me de caminhante da esperança, sempre procurando a luz da verdade e da justiça, da concórdia e do amor! Continuarei sim, com a força da esperança, de encontrar a paz com o amor desejado.
Vim em dia de festa, cantaram-se alegrias e louvores ao nascimento. A aurora à nova vida resplandecia e a primavera em breve viria, a pródiga natureza era inundada com as boas vindas àqueles que nasciam, num elo de fraternidade e compreensão. Eis a união da vida, do amor e da esperança!
O ser humano confunde-se facilmente. Como suas almas são flexíveis e contornáveis: umas seguem os caminhos que o Criador da natureza aconselha, difíceis, mas gratificantes; outras, os caminhos mais fáceis, com metas e destinos obscuros e confusos, germinadores do mal e violência.
Quantos sonhos que construímos e transportamos, mas como se diluem nas sulcadas da vida.

*

Nos meus versos, encontrareis pétalas aspergidas aos vossos corações, algumas manchadas de dor e sofrimento que não pude deixar de escrever, elas são, sentimentos tidos através da caminhada realizada.
Encontrareis também nestas páginas, tantas outras pétalas de beleza e encanto, nos costumes e tradições existentes dum povo, na sua fé, na alegria e felicidade.
Na vida, quantas flores brotam: tantas com espinhos que os corações ferem, mesmo que belas sejam e outras, menos belas que sejam, ao coração de carinho transborda.
Repousemos e meditemos na natureza.
Nela, procuremos a alegria que o Sol nos oferece, a Luz que ilumina os verdadeiros caminhos da vida e da felicidade;
A nascente da água, seja meditação e força viva dos trilhos que temos a percorrer, tal como ela, com o seu cristalino líquido, a pureza e a transparência que nossos corações devem transparecer;
Procuremos na terra trabalhada e fertilizante, a fecunda seiva que brota para a vida, o renascer constante que dela gera, vida que nos abraça e que todos os dias a desfrutamos, exemplo de que todos os nossos dias deve ser contínuo renascer de paz e amor.
Deixemos ouvir o chilrear do pardal ou o chilrar da andorinha, o farfalhar da árvore ou o bramar do mar, e nossos corações receberão o bálsamo reconfortante da serena paz!
Foi desta natureza, terra mãe onde vivi, que nasceram as pétalas que vos dediquei nestas páginas que à vossa frente vos espera, na mesma que também um dia o tumulo se abrirá ao corpo esfriado e à alma que aqui percorreu, enfim.

*

Eis aqui os meus versos!
Eis os sentimentos que trespassaram para o exterior, e o lápis, cúmplice e atrevido, revela as doçuras, tristezas e alegrias contidas, quantas vezes guardadas em segredo. Ai atrevido lápis!
Eis à vossa frente, meus amigos, os meus versos, pincelados em várias cores, na tela da vida, na esperança de que vos sirvam para alguma coisa, que vos entre nos corações e vos faça recordar por muito tempo o vosso bom amigo que vos dedicou estas letras com todo o afecto.
Eis o meu modesto testamento que vos deixo, já que outro não posso declarar.
Tentei-as cantar, mas minha voz rouca, aos ouvidos estremecia, e meus lábios tímidos, a voz tremia... Assim, vos ofereço de coração para coração, (assim me foi possível contactar com todos.)
Eis os sentimentos transbordados, sensíveis ao que vi e amei, para todos que os queiram receber, fragmentos poéticos envolvidos nestas folhas de papel, prontas a vos acompanhar na caminhada da vida.
Eis os versos duma caminhada que viu a Luz do Sol, dádiva da força do Criador;
A serena noite, prólogo para o sempre renascer do novo dia da esperança;
A brisa, mensagem refrescante a lembrar a paz e o amor em todos os homens;
A chuva, seja o alimento da natureza de que todos devem respeitar e cultivar!
Nestas páginas, está o encontro com a criança, seu encanto e doçura cativantes;
A beleza da mulher, da sua juventude e o admirável ser mãe;
No pobre que pode ser nosso irmão e no homem que não quer ouvir a esperança da concórdia!
Eis o homem que vos fala, ser que vos quis transmitir aquilo que pensou, sentiu e que sempre desejou.
Memórias que ficarão para vós e para os que virão, comigo fica a vossa dedicação, respeito e amizade.

Valdemar Muge

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