ÁGUAS
IMENSAS de
horizontes longínquos, daqui vos vejo a marejar...
Sois
berço onde o sol se põe reclinado ao som das tuas ondas, adormecendo, embalado
se vai, se vai...
Vejo-te
do cimo desta terra minha, que quanta já foi tua e me deste para terra de
encanto meu, e a possa amar neste meu viver que aqui nasceu.
Águas
deste mar infindo, afagai este canto que mando e gratidão deste meu sentir. Mas
reparai, não tenho forma e jeito tanto de versos fazer, que mereça tão grande
carinho que por ti sempre quero ter.
Esta
é a terra florida que destas águas salgadas nasceu, a terra afagada na brisa
das suas ondas, que vaidosa se espraia no espelho das suas águas, e se alimenta
de quanto do que é teu.
É
a terra de quando pelo mar banhada, a ofereceu; e de quando isso aconteceu, a
lua numa noite de encanto seu, a beleza espalhou á ria que até aqui cresceu, o
sol deu-lhe mais luz e cor á sua natureza que formosa se tornou; as aves
encheu-lhe de melodias, cantando o que Deus criou; e a aragem moldou o mais
belo sorriso, nas belas varinas desta terra, que dela sou!
Nas
tuas brancas areias que se espraiam até ao mar, rebentaram as raízes que iriam
fortificar as árvores semeadas por um povo que se expandiu, um povo cordial,
amigo e fraternal; um povo de fé, de esperança da vida vencer, de alegria na
alma de amar querer, que pelo areal desceu e a vida venceu.
Um
povo que vê esta terra como sua, que nela quer trabalhar e as sementes
cultivar; os frutos colher; as fábricas produzir; a sua vida nela viver! Mas
quanto dele também sofre com a mágoa na alma, ao ver quantos dos seus filhos
dela saírem por não terem aquilo a que tinham direito e querer... eu, aqui
fiquei, livre, para poder cantar esta terra primavera, povo dela que comigo
canta!
Esta é a terra primavera á beira-mar debruçada, flor silvestre nas
areias brotada, papoula garrida coberta de iodo deste mar que é seu e meu!
Terra primavera que tens praia com ondas da cor do céu, com espuma de
brilho de prata e búzios que se espraiam das dunas ao mar: que guardam os
alegres sorrisos das crianças, brincando; as ternas caricias dos apaixonados,
amando; a felicidade dos que te procuram e desejam o teu encanto e prazer, te
querendo; a saudade de todos aqueles que em tempos contigo viveram. São mimos
que te procuram, são belezas que tu acolhes...
Eu te chamo flor minha e sempre o será, pois minha voz sempre a
cantará!
Não haverá terra mais minha, flor brotada na primavera nascida, igual
que tanto encanta, só tu! (pois quando dela falo desta imensa afeição que em
mim vive, este sentir na minha alma se levanta!)
Assim, este povo foi descendo dos seus bairros, descendo até ao mar
nesta terra prometida, ao encontro do mar para suas águas rasgar. Foi
conquistando a terra: deu-lhe o louro do milho e a brancura do trigo; rasgou
caminhos e construiu lares; rasgou águas e descobriu novos horizontes daqui
desconhecidos; cultivou desejos e arrecadou amizades.
Povo este da beira-mar, nascido com o iodo do seu mar e o encanto de
saber amar, com a graciosidade da beleza e a felicidade no seu coração.
E neste já reclinado dia que daqui o vejo, quando o sol se prepara para
nestas águas adormecer, deixando um abraço neste mar e terra que a sua luz lhes
ilumina, embalado, eu, como ele, abraço esta natureza que no meu peito encerra;
esta paz que nasce na cristalina e fresca água das suas fontes e se desliza nos
rios que silenciosamente vai correndo por entre o verde harmonioso da natureza;
abraço os sorrisos de luz que afloram das almas felizes e se estendem a todos
em abraço fraternal.
Valdemar
Muge
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