Saturday, November 26, 2016

AS PALAVRAS


Quantas palavras escrevi que delas nasceram
flores queridas de amizade de carinho;
quantas nasceram do meio das áridas escarpas
e floriram açucena de reconciliação e gratidão.
Quantas palavras nasceram nas revoltas ondas
e o mar se transformou em suaves águas marejadas.
Quantas palavras cantei: de amor, de paz, de fraternidade,
para nascerem frutos de alegre felicidade.

Quantas palavras foram escritas
que denunciavam o ódio e a maldade,
a ingratidão e a injustiça:
elas soaram no tempo,
atravessaram a tempestade,
e quiseram trazer a bonança, a felicidade;
das nuvens do silêncio, vieram,
choveram quantas de dor e sofrimento,
ao encontro do bálsamo da suavidade e conforto.

No tempo solar, quantas palavras viveram,
do coração foram escritas com ternura,
com afeto, com carinho:
assim foram espalhadas,
foram partilhadas para todos aqueles
que de boa vontade as quiseram receber.
Mas quantas ainda andam na rua, vagueando,
transformadas em pétalas de poesia,
(acreditem que são queridas,)
à espera que as apanhem e as guardem carinhosamente...
Reparai, que elas vão ao vosso encontro,
querem o vosso conforto,
vos querem abraçar em fraternal amizade.

Quantas palavras nasceram,
e quiseram ser o que sonharam:
algumas, dos sonhos viveram, outras, mortas ficaram.
Quantas quiseram ser,
o que os sonhos idealizaram para viver,
mas só o foram o que poderiam ter,
porque mais além, não puderam ser.

Não sei se vos agradei, tudo aquilo que vos dei,
mas só assim é que soubestes o que sou e sempre serei.
E assim, sozinho, com as minhas palavras,
só para mim não as fiquei:
delas partilhei,
vos cantei e sempre elas convosco estarão
em eterno e querido abraço, ficarão.

Valdemar Muge 

Saturday, November 12, 2016

IREI, PARA ONDE, NÃO SEI...

                                        

Neste meu viver que dia-a-dia convosco passei,
bons momentos foram que tanto amei:
nasceram minhas amizades, meus afetos...
agora, vou à procura noutros lugares,
longe ou perto,
de outros tantos sentidos,
que meu coração tanto anseia,
e que sempre serão tão queridos!

Por essa razão,
e sempre com o desejo dessa paixão,
me vou ausentar.
Viajarei para onde o destino me levar,
irei abraçar outros seres, irei ter outras amizades,
outros rostos, outras emoções;
irei ver outra natureza, abraçar outro calor fraternal.
Irei talvez encontrar outras primaveras
onde as açucenas desabrocham dos corações,
e o rouxinol canta a alegria da felicidade;
ou, encontrarei outonos que adormecem embalados
com os seres que sonham com o amor,
entre todos partilhado.

Ainda não sei para onde e como irei:
ainda não sei se irei no vento que por mim passa
ou na aragem que sempre me enlaça;
não sei se vou na luz da aurora que cada dia me afaga
ou na estrela que cada noite me ilumina;
se irei nas asas do pássaro do amor
ou na nuvem da saudade desta partida, quando fôr!
Serei vento ou brisa, ou estrela de luz que brilha;
serei aquilo que sou, embalado naquilo para onde vou...
mas será que sei o que sou?
- quando eu novamente voltar,
Então, dir-vos-ei quem realmente serei:
de onde vim, o que senti e o que dento de mim terei,
quem realmente sou!

Meus amigos,
de vós muitas saudades vou ter
nesta viagem que vou fazer:
levo o vosso carinho,
a vossa amizade no meu coração;
levo os vossos sorrisos,
os vossos abraços nos meus sentidos;
levo a tela da natureza que à minha volta nasceu;
levo toda a poesia que em nós viveu!
O encanto que aqui encontrei,
essa beleza querida que junto de vós alcancei,
para onde vou, a espalharei,
e outra tanta deverei encontrar e amar,
onde também a hei-de cantar...
e, então, quando novamente eu para junto vós regressar,
a todos vós também a espalharei,

para quem sempre a quiser, a darei!

Valdemar Muge

Saturday, November 05, 2016

NAS PRIMAVERAS DO AMOR


Mas que triste aragem esta,
tão gélida e sombria,
que parece noite este triste dia:
esta angústia que passa
como enlaça os corações:
é dor que se exala,
do que se vê e do que se sente.

Já não corre o suave frescor da natureza
envolvido no aroma das rosas,
e embalado na melodia das aves,
que então aqui e ali se sentia.
O tédio é imenso e a dor profunda, que agora passa:
morreu o amor,
 morreu naquele corpo no chão postado!
Ali, caíram, tombaram as rosas da alegria, da felicidade.
Sobre aquele rosto sereno de eterno sono,
deslizam lágrimas deixadas de saudade...
pois ali,  aí já não mora a então felicidade,
já o amor ali não mais proliferá.

No dolente silêncio da rua,
tangem os sinos,
na despedida àquele amor que jamais não volta…
mas a saudade dele ficou e sempre aqui morará.
Naquele sentir que passa,
nos passos fúnebres que as almas levam,
caiem dos rostos, as lágrimas,
nas pétalas brancas de saudade àquele ser que vai,
àquele, por quem a dor dos corações sai.
Aquele sentir que na rua segue,
ele se ergue ao céu, não se sepultará,
porque são esparjos vindos dos corações...
desses, é  amor que jamais não morrerá.

As estrelas deixaram de brilhar;
os dias escureceram nos corações sem aquele amor.
A natureza chora,
e as lágrimas correm,
correm no rio da angústia até ao mar ,
com as dores que ele consumirá.

Mas não! Não chorem mais!
Cessem as agonias!
O amor não mais morrerá!
Que brilhem as estrelas,
e o sol faça luz no firmamento
e resplandeça novamente o amor!
Ele jamais morrerá,
jamais a vida pode existir sem amor
e os corações pulsarem sem ele.
Surgirá sim, Além, o fruto da vida,
a vida que se renova,
a vida que corre ao encontro do futuro,
a da esperança, a do amor.
As lágrimas então derramadas,
sejam seiva nas futuras primaveras,
onde renovenescerá o amor e a felicidade.

 Valdemar Muge