A FLOR DA SAUDADE

Mulher!

Que o mar abraças e dentro de ti o conténs...

quanta grandeza como ele, a tens!:

Teus olhos têm a cor do espelho do mar,  

nele te refletes, e dele tens a força para amar;

teu corpo é brisa que dele vem,   

é frescura, é encanto como ele tanto tem;

e quanto brilho em ti resplandece, 

do sol, que no mar repousa e adormece.

És mulher família, mulher que protege,

quanto o seu amor os corações engrandece.

És mulher só, mulher mãe,

mulher que naquelas águas seu marido seguiu,

as lágrimas viu e os corações dolorosos deixou:

destino amargo de sobrevivência... Destino de solidão.

Mulher coragem!

Serás agora a lutadora...

a conselheira, a afetuosa neste teu lar.

A saudade agora permanece da ausência que passa.

As águas que daquele mar, que então te encantavam,

são refúgio das saudades e das lágrimas deslizadas

no rosto da ansiedade de quem espera e não aparece!

Resta-te ser uma mulher coragem

para vencer a batalha que a vida te deu!

Mulher dor!

No silêncio que povoa,

vives no consolo com teu filho:

dois corações abraçados na vida,

que a vida lhes ofereceu.

As lágrimas caiem

e as saudades povoam no areal daquela praia

agora de tristeza e melancolia.

Com o peito carregado de dor,    

são as ondas que a aconchega,

único bálsamo do salgado iodo que corre, 

no sofrido sentir que no coração mora.

Com a esperança dentro de si,

de que virá o encontro esperado,

sabia que havia de vencer a dor

e se transformar em mulher coragem

nesta luta da vida e de amor!

- só tu ó mar me falas, me ouves meus lamentos...

Diz-me quando ele vem,

porque saudades tenho e não aguento este tormento!

O mar também sabe ouvir e também sabe dar

quando a dor o procura no imenso pesar:

e por mais estranho que pareça,

do mar veio,

das ondas que na areia deslizam,

a gaivota da saudade, baixou:

uma flor da saudade lhe deixou,

a da esperança, de amor,

aos pés da nossa mulher de dor,

que a flor apanhou

e a saudade a acarinhou...

Daqui, o sentir da nostalgia, levou.

 Valdemar Muge