Sunday, July 14, 2013

PASSAM OS ROSTOS












Passam os rostos
na rua envelhecida pelo tempo,
desgasta pelas vidas que na vida correram...
quantas nelas nasceram
e saudosas morreram,
mas a rua, sempre nos abraça e nos quer,
arrecadora de desabafos de quem nos fere.

Passam os rostos cansados que a vida lhes deu,
os olhares tristes da saudade de quem já foi seu...
mágoas sentidas,
quantas ainda retidas,
nostalgia daquelas suas queridas vidas.

Passam os silenciosos seres,
os portadores de sonhos nascidos nas auroras...
eles sonham, sonham na alegria da felicidade
como crianças brincando e rindo
na despreocupada vida que lhes vem vindo.
Rostos de silenciosos seres
que guardam o Universo dos sentidos,
quantos neles passados e vividos
no turbilhão dos ventos corridos.

Mas como passa o rosto do pobre já cansado,
desanimado,
na rua abandonado, aí posto,
com a mão estendida e envergonhado rosto;
o olhar entristecido, enevoado,
à procura da esmola querida.
Ser que a alma desassossegada suportou
depois de quem a tantos amou.
Este, quantas vezes pobre será?...
se no coração amor não ficou.

 Ali passa o Doutor de ar desdenhoso,
autoritário e fogoso
na velha rua de casas envelhecidas
onde o débil velho de cabelos grisalhos,
com a face enrugada de tantos orvalhos,
o que a vida fugaz apenas lhe deixou.

Passam os rostos embebidos das aguas salgadas,
os lutadores da inquietude das ondas marulhadas...
os que no mar a vida procuram,
mas no mar, quantos suas vidas se afundam.
Passam os morenos rostos dos campónios,
agora, poucos são e eram tantos...
Passa o operário laborioso,
o funcionário do Estado, brioso;
passam quantos e quantos
como são tantos o que na rua passam
e a existência enlaçam.
Passam seres do Outono
que ainda querem viver,
quantos curvados, enrugados,
historias felizes e de sofrer.

Passam os seres da Primavera,
as crianças que levam os beijos da Aurora
no pulsar dos corações onde o amor mora;
a juventude com o calor da vida, da esperança...
confiantes, passam na ventura que alcançam,
acreditando sempre num futuro melhor...
a força que eles sabem conquistar.

 Eles passam e quantos mais
       nas calçadas polidas da rua.
      Aí ficam gravadas quantas historias
      que na vida lhes passou,
      quantos lamentos e lágrimas nelas derramaram.

      Os rostos passam e sempre passarão
      com a brisa do mar desta terra,
      e silenciosos ficam os portais da ruas,
      como marcos das memorias suas.

      Em cada rosto, está gravado o seu passado
      como livro que na vida sofreu e foi amado;
      não desfolhes as folhas para recordar,
      porque podes encontrar alguma palavra acusada...
                                       
Valdemar Muge

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