O RETRATO NO
ESPELHO
O espelho da vida, me viu, e não mente...
ele me mostra a face, do quanto a alma sentiu.
Pois ao longo da vida,
quantos elogios, quanta ternura,
e quantos desagrados ouviu.
Muitos, nos ficam gravados na
memória,
aqueles que foram sinceros e
verdadeiros,
mas outros, procuramos
esquecer,
aqueles que a memória não
deixa a felicidade ser.
Quando me olho nesse espelho,
vejo como o tempo depressa passou,
e tanto levou e tão pouco
ficou:
Já não vejo o olhar da
esperança
dos quantos sonhos idealizados;
a face do renascer dos
sorrisos,
dos então encontros das primaveras
floridas;
os lábios desejosos do
amanhecer, agora,
tão vazios e amargos do
Outono que passa;
um coração que expandia a
alegria,
agora, silencioso no tempo,
que o tempo cria.
Um rosto que agora tanto já
não tem
no enrugado da face, que
agora vem,
nos sulcos da vida que a vida
não perdoa,
e na voz que agora pouco ecoa,
se descobre a Saudade que a gente tem:
a das primaveras da vida, da
luz,
jamais esquecidas e queridas,
que agora não reluz e mais
não vem.
Mas dentro do peito, que enraizado está,
na seiva de sangue que o corpo tem,
está o homem que sempre foi, é, e sempre será.
Não vale a pena fingir ou
disfarçar
do que parece para o que
realmente é...
esse inventar, não nos levará a nada.
A realidade, sempre flui no espelho,
e o que conta, é o momento da renovação
do que somos e desejamos até.
E assim felizes seremos na vida,
não pelo que parece,
mas no que julgamos e pensamos que é.
Temos em nós, o renovar da vida, o espírito criador,
somos filhos do Criador, fruto da essência
desta natureza que tem o seu encanto:
quando a árvore está triste
por uma flor a estar deixando,
virá outra a renovar-lhe a vida, dando;
se subirmos ao cume da montanha,
onde mais perto do céu,
da luz, das estrelas estamos,
sentiremos renovados pelo infinito Esplendor...
de lá, vemos a grandeza do mar,
a força da natureza;
vemos no espelho do horizonte,
o espelho da Vida,
esse reflexo da razão,
a nossa pequenez, a essência do que somos,
a humildade que sempre devemos ter,
esta grandeza de Deus que nos fez ser.
Aqui me vejo, o que sou na realidade,
nesta noite, neste dia
que a vida amei, e fiz tanto que queria
sem disfarces, sem mentiras.
Me fiz no tempo e o tempo me levou,
( e sem tempo um dia ficarei, )
para ser agora aquilo que sou;
sonhei, cresci, vivi...
um caminhar de esperança, ao encontro
de ter o que o tempo me deixou.
E assim, me fiz gente na noite, no dia,
com alma que vos estima,
e sem a vossa amizade, que eu seria?
Valdemar Muge
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