PARA TI ESTE PORMA
Teus olhos quiseram ver a beleza que foi criada para a teres,
para a amares e a estimares.
Felizes são os olhos que a têm e a acarinha.
Pois tanta existe e eu tanta a vi, senti e a cantei.
Ela te vem ao romper do dia, te abraça, e te cria:
é a aurora que desponta, o sol que te acaricia,
imensa luz que te abraça, que te abençoa,
para depois nos dar o suave repouso do entardecer.
Esse romper do dia, essa alegria da vida;
essa vivência que desperta, esse reencontro que permanece;
essa música que suavisa, abraço meu e teu que na vida se deu.
A beleza está na cor de cada fruto:
no rubro da romã, no amarelo da maçã;
no escarlate do bago da uva ou na seiva da raiz de cada fruto.
Na melodia do brotar da nascente da água que te canta a vida,
na paz dos rios que segredam os silêncios tidos,
na força do marejar das ondas que te envolve na maresia,
no frescor da chuva que te afaga em lacrimosas gotículas,
no calor solar, força da vida, resplendor de mistério universal,
esse belo e infindável poema da natureza,
esse hino de louvor jamais igualado de tanta beleza.
A beleza, essa, está presente em ti em qualquer momento:
num afável sorriso que possas dar, possas partilhar,
no aconchego do abraço fraternal de quem esperava a chegada,
num carinhoso gesto de gratidão que possas dar,
numa ternura de felicidade, viver para amar;
quando se a sente, ela invade-nos o sangue,
fica-se extasiado, fervilha com a luz da descoberta
nas trevas e na obscuridade existente,
iluminando o conhecimento e a satisfação.
Ela diz-nos a forma harmoniosa da existencial do mundo,
sem que possamos descobrir esse mistério do tempo.
A beleza está nas tuas mãos:
Nelas, tens o condor de levares a flor ao mais humilde,
á criança, ao idoso, a todos que te são queridos;
nelas, descobres o desabrochar da flor,
essa beleza do aflorar da natureza,
e o tombar das pétalas, como sonhos que se perdem...
que quantos morrem como pétalas secas da vida.
Das tuas mãos, pode nascer quanta beleza, quanta harmonia:
das palavras que nunca foram ditas, mas foram escritas;
que nunca tiveram a coragem de falar, mas nasceram das mãos;
que abençoam, que oram, que dão felicidade...
mas também quantas maltratam e injustas.
Elas são a voz do silêncio, dos humilhados do destino, da pobreza,
estas já serão as da triste beleza que permanece.
Pois não precisas de procurar a beleza para a teres:
ela está no teu olhar, nas tuas mãos, no teu sentir.
Está presente, mais ou menos bela, no sentir do momento,
no êxtase do encontro, na maravilha da exaltação.
Somos os realizadores da beleza, os construtores dessa maravilha,
ela é obra do nosso sentir, da nossa imaginação,
é constante fluir de dentro de nós,
como maravilhoso seria que sempre fosse de paz e amor.
A beleza está e sempre estará em cada dia que se vive, que se renasce,
em cada abraço de agradecimento que se dá á vida,
em cada louvor á nossa existência.
Com este louvor de gratidão, na memória do espírito,
um dia levarei todas estas imagens que me ficaram gravadas,
nelas, também me transformarei, nelas viverei,
toda as maravilhas para a todos espalhar,
nesse silêncio esperado e sempre aguardado.
Valdemar Muge
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