Saturday, September 03, 2016

JUNTO AO MAR



No reclinado sossego deste mar
que as ondas vão deslizando na branca areia
que  meus pés a vão percorrendo,
a água me vai segredando os sentidos
do que tem guardado, dos que a têm abraçado:

Quantas lágrimas ela traz,
no sussurro marejar que faz,
que fora de quanto aconchego de desabafos,
de dor, de angústia, de trabalho.
Com essas lágrimas que então recebeu,
estas águas quanto mais salgadas ficaram
com a dor dos corações que se exalou.

Naquelas areias,
vislumbro os sulcos dos pés dos homens do mar,
das labutas contidas
e das recompensas merecidas;
das varinas daquela praia,
com o seu trabalho,
com a sua graça, com a sua alegria!:
É a gente daquela praia,
os homens e as mulheres do mar,
os pescadores e as varinas
que na alma têm a vastidão
da grandeza do seu mar,
que embarcam nas marés da dor e da alegria,
da amargura e da felicidade,
como se esse mar fosse só seu!

É neste sentir junto ao mar,
que meu peito se abre
e recebe esses segredos seus,
que em mim ficam como sendo teus e meus.
Tu mar,
que a meus pés vens desaguar,
me vens segredar as tuas saudades
neste teu porto amigo,
te recebo tuas mágoas,
tuas glórias, que nas tuas águas encerras.

Ficarei aqui, até quando não sei!
Abraçando-te,
repousado nesta areia…
será este mar, morada minha,
companheiro de alma salgada
que eu ainda não tinha.

 Valdemar Muge

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