Passam por mim,
e tantos são que não os conheço...
vossos rostos se cruzam,
mas muitos não os reconheço.
Eles passam, seguem e sempre vão…
Que importa saber esses quem são,
donde vieram ou para onde vão,
se todos os que por mim passam,
é poema sentido da vida, que na vida passa.
Não me digam quem são,
nem importa saber para onde vão!:
se as aves que me cantaram
pela manhã ao nascer do dia;
o vento que me afagou
na sua viagem quando passou;
as pétalas soltas que bailaram
em ternas despedidas, não ficaram.
O rio que passa correndo,
levando saudades, chorando;
as crianças felizes brincando,
com ternos olhares e sorrisos, amando;
o pregão da Varina, o clamor do Trabalhador:
que importa, se com o sentir de tudo isso fiquei,
e não disseram quem eram, mas quanto amei!
Que importa saber quem são,
tudo o que por mim passou,
se dentro de mim guardei e cresceu…
só morrerá, quando minhas palavras perecerem,
porque elas me dão vida,
me dão força de viver,
me fazem cantar o sentir do amor, da alegria;
essas, que partilhei, aqui ficam,
porque aqui floresceram e cresceram,
que foram as mensagens do sentir de um ser.
Não importa saber quem são
ou dizerem-lhes quem sou:
Para todos, serei aquele que escrevo,
o que sinto e o que penso.
Sou vento, quando nas palavras ele passa;
sou rio, que corre e a água no seu cantar, me abraça;
sou deste povo, desta terra e mar
que sempre a vida aqui quis amar;
sou tempo que em mim correu,
que em mim viveu, mas um dia também morre...
e então, esse corpo já não será seu.
Poderei ser também um rosto
que não sabe para muitos de vós quem é,
mas sou o que dentro de mim sempre é:
o que fiz, o que cresci, o que plantei, até!
Valdemar Muge