GUARDO O TEMPO
Guardo o tempo que a brisa me envolvia e sonhava,
porque sentia que nela vinhas, para me afagar contigo.
A brisa passava, passava, e a tua imagem então ficava,
meu amor, para te abraçar sonhando,
e para sempre assim te ter amando.
Guardo o tempo que o brilho das estrelas nos iluminavam,
com elas, suponha que o brilho da noite seria eterno.
Mas era o brilho de teu olhar que resplandecia,
ele é eterno, é que me acariciava
nas ternas noites que os corações rejuvenesciam.
Guardo o tempo que os caminhos tinham vento agreste,
mas depressa o vento passava e vinha a bonança;
pois se as rosas também têm espinhos agrestes,
mas o seu encanto faz esquecer a presença dessa agre-dez ...
era o tempo que as palavras eram poesia,
e, os sonhos floriam nos corações que então havia.
E no silêncio do tempo que agora vai passando,
quando tens os olhos fechados, que acontece, meditando,
nesse universo que só eles sabem criar e dar,
fecho os meus, para ver o que dentro, sentindo, dos teus têm:
parece ser reflexos de lágrimas de saudade que de ti vêm ...
são recordações que o brilho da memória ainda contém.
E nos teus silêncios que agora te pousam,
silencioso também fico na partilha triste
de tudo que foi e agora parece que já não existe,
de tanto que brilhou e agora até parece tempo triste.
Como são saudades dum tempo que a vida tem,
quando a felicidade é a mais sublime riqueza que se tem.
Neste teu silêncio de corpo dorido n0 leito, adormecido,
está a mulher vivida com a ternura e a amargura tidas;
está dentro de si, a solicitude e a prontidão em cada mão.
Na sua dor deste silêncio, estão os sonhos do passado,
as alegrias, as vivências partilhadas, queridas,
o hino à vida, ao amor, à fraternidade havidas;
no coração, está a dedicação e a ternura de mãe,
carícia de flor, afago de esperança dadas,
felicidade encontrada, mulher única amada.
És poema que flui à vida neste teu silêncio,
mulher que flutua no delírio das recordações,
e guarda o tempo de que sempre quis amar,
abraçando a coragem, a alegria no coração,
e também quantas lágrimas no olhar vão.
Valdemar Muge