QUANTOS TEMPOS GUARDEI
Quantos tempos guardei que tanto sentir me fizeram, te
sentir que no tempo ficou mas
frutos na alma deram:
Sou guardador do tempo das
palavras amigas
que habitam nos lábios com
sorrisos afetuosos:
as suaves e leves que deslizam
tão carinhosas,
mas também as com força de
tempestade, de luta, de amizade;
das ternuras que esvoaçam e
pousam nos corações
envoltas no manto da
sinceridade;
dos dias da esperança dos
sonhos idealizados,
do erguer das quedas nos
corpos maltratados,
das dores sofridas e com
coragem foram vencidas
com tenacidade, com raiva, com
luta, com ardor;
dos alegres dias cantados á
luz do amor e da liberdade,
com abraços da felicidade de
viver
com todos vós, amigos, e aqui
permanecer;
das palavras partilhadas com
rios de afetos,
e das que fizeram enxugar lágrimas de dor e de
saudade.
O do fogo, das inundações, da
fome, do sangue das guerras,
esse tempo não! Não quero
guardar esse viver.
Não o quero ser, nem o desejo
para ninguém ter.
Sou esses tempos guardados,
esse sentir que a vida me deu,
essa força que a alma criou
neste peregrinar meu,
esses tempos de memórias,
tesouro que a vida criou
neste viver que a Natureza
fecundou.
Sou o fluir do tempo deste
poema cantado,
de rio que corre em murmúrios
cantando;
marejar de mar que suaviza,
que cria, que luta;
de flor que desabrocha,
anúncio de paz, de alegria;
de fruto que vem a vida,
dádiva do trabalho, seiva de viver.
Enfim, sou semente que
germinou o sentir guardado da vida,
árvore da semente deste
cântico vivo da Natureza,
poesia que se criou e se canta
e dança á vida,
neste mistério vivo que nos
embala com alegria e tristeza.
Fui todo esse tempo, recordações da memória da vida.
Hoje, não quero tempo algum,
só quero o eterno presente para as memórias do sentir
nos corações de todos os vossos tempos.
Valdemar Muge